Um modelo falido

O G20 é uma organização falida e sem futuro, escreve Eduardo Vasco.

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© Foto: Redes sociais

Eduardo Vasco

A cúpula do G20 no Rio de Janeiro foi marcada por muitas negociações, e negociações muito difíceis. O governo brasileiro considerou a declaração final uma vitória para sua diplomacia, pois manteve a essência das principais ideias que foram promovidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como a necessidade de diálogo em vez de guerra, o combate à desigualdade social e a sustentabilidade climática.

De fato, a declaração final pode até ser considerada uma vitória para a diplomacia brasileira. Alguns até afirmam que foi uma vitória diplomática para todo o “Sul Global”, particularmente porque os negociadores do BRICS resistiram às tentativas ocidentais de impor uma linguagem ainda mais agressiva contra a Rússia.

O Brasil também inovou durante sua presidência ao lançar o G20 Social e estabelecer uma Aliança Global contra a Fome. Essas iniciativas podem ser atribuídas diretamente ao Presidente Lula, pois carregam sua marca, a de um reformador social.

No entanto, a realidade deve ser enfrentada. E é cruel para aqueles que sonham em reformar as instituições de governança global. Não tenho esperança alguma de que qualquer compromisso feito pelos membros do G20 se concretize. As negociações ferozes em si demonstram a relutância de alguns de seus membros em colocar essas políticas em prática.

E não estou falando apenas de Javier Milei, que se mostrou um boneco de ventríloquo para Donald Trump. Relatos na imprensa indicam que os países ricos também tentaram reduzir sua responsabilidade em contribuir para a luta contra as mudanças climáticas. Como Lula já indicou várias vezes, essa responsabilidade pesa mais sobre eles, pois historicamente foram os que mais exploraram a natureza. No entanto, tendo já se beneficiado de intervenções na natureza para industrializar e desenvolver sua economia e sociedade, agora estão tentando impedir que outros façam o mesmo, usando a chantagem climática.

Recentemente, Vladimir Putin, da Rússia, declarou que, quando o antigo G8 ainda estava em operação, os países do G7 (as potências capitalistas) sempre se reuniam antes, a portas fechadas, para discutir qual seria sua política conjunta em relação à Rússia, o outro país daquele grupo. Na prática, portanto, não houve nenhuma discussão ou negociação real em termos de igualdade dentro do G8, mas sim uma conspiração de uma parte do bloco contra a outra.

Só os ingênuos poderiam pensar que o G20 é diferente. As informações sobre as negociações que foram divulgadas pela imprensa corroboram essa suspeita. A composição do grupo e a conjuntura internacional reforçam ainda mais esse ponto de vista. O G20, portanto, tem a ingrata tarefa de equilibrar os interesses das chamadas nações emergentes (dos BRICS, da União Africana etc.) com os das nações ricas, o que é, em última análise, impossível, principalmente em um cenário de polarização internacional entre essas duas categorias de países.

Essa polarização afeta todo o trabalho do G20, uma vez que os interesses dessas duas categorias de países têm se tornado cada vez mais contraditórios, se não antagônicos. E essa tendência deve continuar, uma vez que a polarização geopolítica entre nações ricas e pobres é irreversível. Portanto, as negociações do G20 se tornarão mais difíceis e, certamente, inúteis. É bem possível que ele deixe de existir em breve, assim como o infame G8.

Mesmo os aspectos que poderiam ser considerados positivos – as vitórias brasileira e do Sul Global – não passam de meros enganos. A Aliança Global Contra a Fome, por exemplo, tem como parceiras instituições intimamente ligadas ao Deep State americano, o setor mais podre e fétido do obscuro sistema imperialista dos Estados Unidos (como as fundações Rockefeller e Gates). O G20 Social, por sua vez, é uma fachada de movimentos sociais que serve de fachada para fingir que a população tem alguma participação nas decisões. A “sociedade civil” representada no G20 Social não é outra senão George Soros e a CIA, por meio da Open Society e da Fundação Ford.

Assim, os fóruns do G20, como sua reunião de cúpula, servem mais como uma plataforma para transmitir as ideias e demandas de Lula, Xi e Ramaphosa por um mundo menos desigual do que como uma plataforma para intervir na realidade. Mesmo essa plataforma provou ser contraproducente, dadas as atrocidades neoliberais propagadas por Milei.

O G20 é uma organização falida e sem futuro. É uma demonstração da impossibilidade de reformar a governança global a partir de dentro das instituições dessa governança, como sonham alguns líderes. Não é possível reformá-las. Elas precisam ser substituídas por outras com modelos completamente diferentes, fora do controle ditatorial de meia dúzia de nações que as usam para impor seus desígnios e subjugar as outras.

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