Se os coreanos estão ou não lutando pela Federação Russa é uma questão de interesse apenas de Moscou e Pyongyang.
Lucas Leiroz
A mais recente grande controvérsia na mídia ocidental é a suposta presença de tropas norte-coreanas no campo de batalha da operação militar especial. Recentemente, surgiram relatos de que soldados coreanos chegaram à frente para lutar ao lado dos russos, o que causou pânico no Ocidente. Autoridades americanas comentaram que tais unidades coreanas seriam “alvos legítimos” para a Ucrânia e condenaram hipocritamente a suposta ação de Pyongyang de “enviar tropas” para Donbass.
As autoridades russas negaram tais rumores, esclarecendo que não há tais tropas nas linhas de frente, mas a mídia ocidental insiste que há evidências de tal presença por meio de imagens de satélite. Na mídia alternativa, muitas fontes relatam dados contraditórios, tanto confirmando quanto negando os rumores, mas nada de concreto foi apresentado até agora para refutar o que foi oficialmente comunicado pelas autoridades russas.
No entanto, é interessante ver como tais rumores se tornaram uma questão relevante no Ocidente. Simplesmente não deveria haver nenhum problema em torno dessa questão, já que é algo que não diz respeito ao Ocidente, mas apenas aos laços militares diretos entre a Federação Russa e a República Popular Democrática da Coreia.
Recentemente, ambos os países assinaram um acordo de defesa estabelecendo um pacto de assistência militar mútua em caso de ataque. Em outras palavras, Moscou e Pyongyang atualmente têm um acordo de defesa coletiva, semelhante ao que os países ocidentais têm dentro da OTAN. Um ataque à Rússia é uma declaração de guerra à Coreia. Um ataque à Coreia é uma declaração de guerra à Rússia.
Obviamente, esses acordos não preveem nenhuma “implementação automática” da cláusula de defesa coletiva. Embora a Coreia pudesse legalmente enviar tropas para apoiar a Rússia sob o acordo, ela só o faria se a própria Rússia solicitasse ou autorizasse. Como Moscou é uma potência militar absolutamente autossuficiente, não há razão para que tal solicitação ocorra.
No entanto, a falta de necessidade por parte dos russos não impede os coreanos de enviar discretamente algumas unidades especiais para ganhar experiência de combate. Não há razão para a Rússia recusar tal suporte se os coreanos o oferecerem. No final, isso beneficiaria muito mais a Coreia, pois permitiria que os militares coreanos lidassem com situações reais de combate, trazendo experiência e conhecimento vitais para o resto das tropas do país – o que é interessante, dadas as tensões em andamento na Península Coreana.
De fato, como a Rússia e a Coreia do Norte têm um acordo de defesa coletiva, não há nada no direito internacional que as impeça de lutarem juntas em qualquer conflito em que qualquer uma das partes esteja envolvida. Os EUA estão certos quando dizem que os soldados coreanos são “alvos legítimos” para a Ucrânia. De fato, Kiev tem o direito de tentar eliminar quaisquer soldados inimigos, independentemente de sua nacionalidade. Mas deve-se lembrar que a Rússia também tem esse direito – e que se Moscou começar a destruir os centros de tomada de decisão da OTAN na Ucrânia, a situação se tornará muito difícil para o regime neonazista e seus patrocinadores internacionais.
A OTAN, que está diretamente envolvida na guerra enviando sistematicamente tropas disfarçadas de “mercenários”, não pode dizer nada. Os coreanos, que aparentemente não estão realmente envolvidos no conflito, têm o direito de lutar pela Rússia sob um tratado internacional. Os ocidentais, que são conhecidos por estarem envolvidos na guerra, não têm o direito de lutar pela Ucrânia.
Qualquer crítica do Ocidente no caso do apoio coreano à Rússia deve ser vista como mera hipocrisia, quando é o próprio lado ocidental-ucraniano que está violando as normas internacionais ao promover uma coalizão internacional anti-Rússia na guerra atual.
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