Talvez o objetivo da confusão do Twitter seja impor sanções ao Brasil

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© Foto: Domínio público

Bruna Frascolla

Existe algo como um ex-agente de inteligência? Se existe, então Mike Benz é um exemplo, pois ele trabalhou para o Departamento de Estado dos EUA. E ele ganhou a atenção dos brasileiros porque, após deixar oficialmente seu emprego no governo, ele abriu uma ONG em defesa da liberdade de expressão, e agora está comprometido em expor os meios pelos quais seus ex-colegas de trabalho interferiram no Brasil. As revelações são interessantes, porque é sempre bom saber os detalhes; no entanto, o quadro geral não é de forma alguma uma surpresa. É óbvio que os EUA agem por meio de seu guarda-chuva de ONGs para promover a censura politicamente correta no Brasil. É por isso que a coisa mais suspeita do mundo é um ex-agente de inteligência que abre uma ONG. É como se aposentar da cafetinagem e abrir uma agência de modelos. Às vezes, Elon Musk retuíta ele.

Outro personagem americano que ganhou destaque no Brasil é Michael Shellenberger, jornalista e ativista de ONGs que apoia a liberdade de expressão e critica a agenda verde. (Onde há ONGs críticas à agenda verde, provavelmente há dinheiro dos irmãos Koch.) Aqui no meu país, Shellenberger apresentou o Twitter Files Brasil junto com os jornalistas brasileiros David Ágape e Eli Vieira Jr (meus antigos colegas). O Twitter Files consistiu na abertura de documentos do Twitter por Elon Musk no final de 2022, com o objetivo de expor a interferência do antigo FBI sobre a plataforma. O Twitter Files Brasil surgiu em abril de 2024, mais de um ano depois, e foi dedicado a expor o juiz Alexandre de Moraes. Uma semelhança entre os Estados Unidos e o Brasil é que o Twitter Files, apesar de sua relevância, só foi levado a sério por veículos de direita e congressistas.

Durante o Twitter Files Brasil, discuti com amigos qual poderia ser o ponto dos EUA nisso. A opinião comum, expressada também pela mídia brasileira, era que os trumpistas queriam usar o Brasil como bicho-papão democrata: mostrariam a censura que nos é imposta pelo governo deles e argumentariam que, se os democratas continuassem no poder, logo o mesmo aconteceria com os EUA. Há, sem dúvida, verdade nisso (veja o vídeo de Shellenberger em inglês , anunciando que vem ao Brasil para protestar no dia 7 de setembro). Mas há também um movimento evidente da direita brasileira (especialmente a liberal) para imitar a oposição venezuelana e pedir sanções contra o nosso próprio país. O nome mais proeminente nesse sentido é o do deputado Marcel Van Hattem, que sempre está junto de Shellenberger quando ele está no Brasil, e também o encontra no exterior, em cúpulas de liberdade de expressão.

Por isso, sempre pensei que a intenção dos direitistas dos EUA, nesse movimento, é impor sanções ao Brasil. Agora, nossa agricultura é uma forte concorrente do setor produtivo americano. O setor produtivo tende a apoiar os republicanos e está insatisfeito com os devaneios de um New Deal Verde. Ao mesmo tempo, o ativismo de direita nos EUA é liberal ou libertário, e tende a sustentar, como artigos de fé, crenças no livre mercado e na liberdade de expressão. Se os EUA sancionam o Brasil em nome da liberdade de expressão, a natureza protecionista de seu movimento fica escondida dos verdadeiros crentes libertários.

Com a proibição de X, fiquei mais segura disso. Você pode ver aqui Mike Benz pedindo sanções contra o Brasil. Jordan Peterson e Elon Musk já consideram que a proibição de X finalmente torna o Brasil uma ditadura (eles decidiram indicar o ministro Moraes e o presidente Lula, nesta ordem, como ditadores, embora Lula esteja calado, e Moraes aja com o consentimento dos colegas). O que era um exagero retórico da oposição brasileira virou discurso de figurões da direita americana. Como os americanos lidam com ditaduras? Por meio de sanções.

Mas é difícil saber se essa é toda a história. Depois que Elon Musk fechou a representação X no Brasil para fugir das garras da nossa louca Suprema Corte, Moraes confiscou as contas bancárias brasileiras da Starlink. Como Mike Benz corretamente apontou (no mesmo vídeo que linkei), o normal seria que o governo dos Estados Unidos defendesse os interesses de seus cidadãos. Por muito menos, outros países tomaram sanções. Então isso só está acontecendo com a conivência dos EUA. Benz quer que acreditemos que há uma oposição profunda e real entre democratas e republicanos, o que faria com que um empresário trumpista fosse perseguido pelo Brasil com o consentimento do governo. Eu não acredito nisso – porque as empresas de Musk têm relações estreitas com o governo.

Acredito que agora ninguém pode saber, de fora, o que está acontecendo. Isso é cheirar um rato.

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