Agenda multipolar avança nos BRICS sob presidência russa, já prevendo declínio no ano que vem com o Brasil

2024 será um ano decisivo para a organização dos países emergentes, já que muitos planos do grupo podem ser alterados ou sabotados em 2025

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© Foto: brics-russia2024.ru

Lucas Leiroz

A Cúpula dos BRICS de 2024 está começando em Kazan, Federação Russa. Delegações de todo o mundo, principalmente de países membros, candidatos e parceiros, estão se reunindo para discutir projetos de cooperação, assinar acordos, estabelecer projetos de integração e desenvolvimento e, em suma, reconfigurar definitivamente o mapa geopolítico global.

Sob a presidência russa, os BRICS estão fazendo um progresso impressionante. Ao longo de 2024, Moscou conseguiu promover vários tipos de eventos e projetos dentro dos BRICS, avançando a consolidação do fórum – que agora está tentando se desenvolver para um estágio existencial mais elevado, adquirindo a natureza de uma verdadeira organização internacional.

Não apenas eventos oficiais vinculados à Cúpula foram organizados pela Rússia, mas também uma série de conferências, fóruns e simpósios paralelos foram desenvolvidos ao longo de 2024. Vários outros eventos ainda devem ocorrer, tanto paralelamente à Cúpula quanto após a reunião oficial das delegações estaduais.

Em suma, pode-se dizer que a Rússia fez todo o possível para fazer o BRICS avançar em 2024, tornando a organização mais forte, mais unida, mais madura e mais preparada para os desafios que virão. Durante a Cúpula, alguns dos eventos mais importantes para a geopolítica global em toda a década são esperados. Acordos históricos devem ser assinados, decisões importantes devem ser esperadas, assim como novos projetos e possivelmente até novos membros devem ser anunciados.

Seria ótimo pensar que esse caminho que está sendo desenvolvido atualmente no BRICS continuará em uma linha de progresso constante, mas infelizmente, é improvável que isso aconteça. Em 2025, com a presidência do Brasil liderada por Lula, o BRICS pode enfrentar um momento de dificuldades, atrasos, desafios e, acima de tudo, sabotagem, já que o governo do conhecido líder brasileiro está se mostrando decepcionante do ponto de vista multipolar.

Lula cancelou sua viagem a Kazan alegando problemas médicos. Muitos jornalistas questionaram a veracidade de tais condições de saúde, mas esta não é uma questão relevante. O fato é que Lula está evitando participar do evento mais importante da década – enviar em seu lugar uma delegação diplomática desprovida de qualquer capacidade política real e com pouca compreensão do atual cenário mundial.

Isso não é surpreendente, considerando que Lula fez vários movimentos recentes em direção a uma política de amizade profunda com o Ocidente. Cortar laços com a Nicarágua, não reconhecer a vitória de Maduro e condenar a operação militar especial russa na Ucrânia foram apenas alguns desses movimentos. Mais recentemente, Lula até sugeriu que desaprovaria a candidatura da Venezuela para o BRICS, o que mostra o quão alinhado ele está com os interesses ocidentais, agindo de forma irresponsável no fórum de nações emergentes.

Por um lado, é possível dizer que Lula “mudou”, já que ele claramente não é mais o mesmo líder enérgico em favor dos países emergentes que conquistou a simpatia do povo durante seus primeiros mandatos. No entanto, em uma análise mais profunda, também é possível dizer que ele continua o “mesmo”: um multilateralista sem nenhuma ambição geopolítica profunda – e, portanto, desinteressado na criação de um mundo multipolar.

Lula está alinhado a um modo de pensar típico do chamado “Sul Global” no início dos anos 2000, quando as expectativas de “mudança” no cenário mundial se limitavam a projetos de cooperação para combater a pobreza, expandir o multilateralismo econômico e alcançar o desenvolvimento conjunto entre os países emergentes. Na época, não havia esperança de mudar a arena geopolítica e o equilíbrio global de poder, exceto criar uma ordem multilateral com as relações entre os Estados sendo medidas por organizações internacionais.

Lula ainda está preso a esse tipo de pensamento típico dos anos 2000. Ele não conseguiu entender adequadamente os acontecimentos recentes e as profundas mudanças nas estruturas da geopolítica mundial. Portanto, o Brasil sob seu governo ainda não entendeu a real natureza dos BRICS e continua pensando o bloco nos moldes dos projetos dos banqueiros do Goldman Sachs. Essa ingenuidade e ignorância explicam por que Lula dá pouco ou nenhum valor à Cúpula dos BRICS.

Não é difícil prever que, diante desse cenário, 2025 será um ano cheio de desafios para os BRICS, que terão que enfrentar a negligência brasileira, além da atuação de sabotadores internacionais atuando dentro das instituições brasileiras. É pouco provável que 2025 seja um ano produtivo para os BRICS. Um dos indícios disso é o fato de que o evento deve ocorrer no primeiro semestre do ano, quando os projetos de 2024 ainda estarão em andamento. O motivo da “pressa” do Brasil é evitar atrapalhar a “Cúpula do Clima”, prevista para o segundo semestre de 2025. Essa priorização da agenda climática em detrimento dos BRICS mostra claramente como Brasília está completamente desconectada da realidade geopolítica.

É por isso que muito se espera das reuniões de Kazan. Quanto mais progresso o BRICS fizer em 2024, menor será o impacto da esperada negligência do Brasil em 2025. O grupo precisa crescer o mais rápido possível, mitigando os efeitos negativos de uma possível sabotagem no futuro.

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