Sobre fascismo e maldade: às pessoas do bem, por Gustavo Gollo

 

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Do GGN

Sobre fascismo e maldade: às pessoas do bem, por Gustavo Gollo

No próximo domingo, os brasileiros optaremos entre 2 caminhos bastante opostos; um deles conduz ao fascismo.

Desde a segunda guerra, a palavra “fascismo” tem evocado em nós um sentimento de repulsa, resultado da constatação das maldades chocantes, das desumanidades aberrantes perpetradas pelos fascistas de então. Em vista disso, no ressurgimento atual, os fascistas trataram de ressignificar algumas palavras, entre elas a palavra “fascismo”, que eles próprios agora renegam. Também dizem-se “liberais”, embora sejam ultraconservadores, sem que o assumam.

Embora a palavra “fascismo” merecesse discussão e esclarecimento, a premência do momento sugere o adiamento de tal discussão para após as eleições, cabendo agora outra mais palpável, a discussão sobre a maldade, a crueldade, a desumanidade; todos conhecemos o significado desses sentimentos que dificilmente podem ser ocultados.

Sobre as maldades

Todos nós podemos ser cruéis e, em determinados momentos, todos nos deixamos levar por sentimentos que nós próprios renegamos. Em tais momentos, tornamo-nos momentaneamente monstros; cruéis e desumanos. Somos assim, e ao perceber termos sido tomados por sentimentos “desumanos” – é assim que os chamamos, embora inerentes a todos –, a maioria de nós se envergonha de se ter deixado levar pela brutalidade, quase sempre evocando desculpa momentânea para a ocorrência. Os que nunca se deixaram levar pela maldade são chamados santos, e existem mais em universos religiosos que no mundo real. Creio que mesmo os santos mais venerados terão se deixado levar pela maldade em alguns momentos de suas vidas.

De qualquer forma, costumamos compreender e perdoar os que se deixam levar pela maldade em ocasiões muito agudas, quase sempre em resposta a crueldade anterior perpetrada por outro. Nesses momentos, podemos, eventualmente compreender e até perdoar certos arroubos que todos nós dificilmente conseguiríamos conter. Fortes injustiças, por exemplo, se achacadas sobre nós, tendem a nos indignar a extremos, levando-nos, a clamar por retaliação, ocorrência compreensível, conforme as circunstâncias.

Conhecemos também a maldade pura, aquela que se manifesta por si só, como por divertimento. Consideramo-la desumana e indigna, e a repudiamos. Creio ser essa a causa de nossa repulsa ao fascismo, pois, se podemos compreender e quase justificar, em vista de circunstâncias especiais, a maldade que se manifesta em contraposição a outra – como seu fruto –, a maldade pura, desmotivada – essa que parece brotar do próprio apreço pelo sofrimento dos outros, por uma espécie de divertimento pelo martírio e tortura dos semelhantes –, nos causa forte aversão. Consideramo-la desumana, atributo de monstros cruéis.

Direitos humanos

Foi, aliás, a forte repulsa às maldades perpetradas pelos fascistas que conduziu todos os povos à elaboração e aprovação da declaração universal dos direitos humanos, lei universal que garante a dignidade de todas as pessoas.

Medo e respeito

Penso que a confusão fundamental originadora do fascismo seja a incapacidade de distinção entre medo e respeito. Medo é aquilo que sentimos pelas feras, pelos monstros, e por pessoas que se comportam das mesmas maneiras brutais que tais criaturas. Respeito é aquilo que sentimos por pessoas relevantes, sumamente dignas e idôneas. O papa Francisco ilustra bem, hoje, o que seja uma figura respeitável, e, mesmo não sendo cristão, reconheço o cardeal Evaristo Arns, como figura altamente respeitável anterior a ele, embora nenhum dos 2 evocasse o medo, nem precisasse portar armas para ser respeitado. Não nos enganemos, armas tornam as pessoas ameaçadoras e eventualmente aterrorizantes, mas não as tornam respeitáveis. Pessoas verdadeiramente dignas se fazem respeitar pela coerência entre seus atos e suas boas palavras, não pelo uso de armas consonantes a palavreados ameaçadores e brutais.

Os que sabem que não podem ser respeitados propugnam o medo e impõem a submissão e o temor, em lugar do respeito. Sabendo não serem respeitáveis, tentam subjugar e silenciar todos os que reconheçam suas indignidades, na vã tentativa de ocultá-las, conseguindo esconder apenas de si, as próprias iniquidades. Tais criaturas não merecem ódio, mas pena.

Tortura, crueldade e sadismo

Enquanto as pessoas comuns sentem forte repulsa pelo sofrimento alheio, existem os sádicos, aqueles que sentem prazer pelo sofrimento dos outros. Tais pessoas inventaram e aperfeiçoaram as torturas, as piores maldades imagináveis.

O momento atual

Estamos vivendo um momento especialmente tenso e ruim da história, o que levará muitas pessoas a votar sob o comando do rancor, da raiva e de outros sentimentos maus. Penso que sentimentos assim não conduzirão a nada bom. Ao examinar os motivos que os conduziram à escolha do voto, muitos perceberão terem sido guiados por sentimentos como esses; sugiro não nos deixarmos guiar por eles, acredito que a maldade só conduzirá à maldade.

Os fascistas têm se empenhado em confundir palavras e sentimentos, tentando ocultar-se e passarem pelo que não são. Muitos de nós não conhecemos o significado exato da palavra “fascismo”, e talvez nos confundamos com ela. Mas se podemos nos confundir com o fascismo, não nos confundimos com a maldade.

Nesse domingo, se votarmos guiados pelo rancor e pela raiva instituiremos um governo fascista que se encarregará de disseminar a maldade.

Esse texto se dirige às pessoas do bem.

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