Ainda na avaliação do ex-ministro, um golpe militar não está descartado. “Não descarto nada” disse Amaral. Para ele, um golpe no sentido clássico (militares colocando tanques nas ruas) é inviável, “para tomar ou manter o poder, com ou sem Bolsonaro”. Mas, ainda segundo o ex-ministro, “vejo uma continuidade do golpe”.
Considerando um cenário em que a democracia e a normalidade do processo eleitoral prevaleçam, no qual as ameaças do bolsonarismo se reduzam a bravatas, dificilmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará de ser eleito para um terceiro mandato. A eleição presidencial em seu primeiro turno, contudo, está a quase cinco meses e as forças políticas empenhadas em pôr fim à trágica era Bolsonaro precisam manter a concentração, uma vez que o golpe de Estado se aprofunda, no país, desde 2016.
Não sou, por assim dizer, crente em pesquisas. Leio as pesquisas como tendências de momento, que podem ser alteradas por um fenômeno, um fato novo, medidas do governo — pondera o ex-presidente do PSB e cientista político Roberto Amaral, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA), nesta quarta-feira.
Amaral menciona uma série de fatores da atual conjuntura que podem pesar no processo meses até a eleição. A importância do Brasil no cenário internacional; a crise mundial, considerando a guerra entre Rússia e Ucrânia e também os fatores econômicos; eventuais medidas (eleitoreiras) do governo; os mais de 16 bilhões do Orçamento referentes a emendas de relator, que Bolsonaro disse que ajudam “a acalmar o Parlamento”, e que servirão para aliados despejarem em suas bases na campanha.
São muitas variantes. Se as eleições fossem hoje, dificilmente Lula perderia. Mas está cedo para cantar vitória — alerta Amaral.
Judiciário
É preciso lembrar, segue Amaral, que a esquerda e o campo progressista “estão totalmente fora do aparelho estatal e das instituições, e têm uma presença diminuta no Congresso”. Atualmente, os agentes dominantes na política nacional são a direita militar e o Supremo Tribunal Federal (STF), “uma instituição conservadora”, sublinha. Ou seja: “A sustentação democrática está nas mãos de um poder conservador, o Judiciário”. Para ele, “é um quadro preocupante”.
PT, PSB, PCdoB, PV, Rede, Psol e Solidariedade avançam em diálogo por ampliação de frente
Por isso, “estamos depositando tudo na eleição do Lula, e todas as preocupações positivas são em função da eventualidade da eleição de Lula”, diz o ex-ministro de Ciência e Tecnologia do primeiro governo petista.
Não estou dizendo se está certo ou errado. É uma contingência histórica — ressalta.
Ciro Gomes
A “falecida terceira via”, como classifica Amaral, de fato não parece fadada a dar frutos.
Hoje vemos o fim do PSDB, um partido que se autodissolve de forma patética. O trabalhismo se acaba, seja como for que se queira examiná-lo: pela vertente varguista, pela herança de Brizola (fundador do PDT) ou pelo excremento em que se transformou o PTB do Roberto Jefferson. E o MDB também se acaba nessas eleições — adianta.
Sobre Ciro Gomes, que já foi um dos mais importantes quadros da centro-esquerda do país, ex-ministro da Integração Nacional e colega do próprio Amaral no governo Lula, o cientista político afirma que “hoje é um quadro doente. Tem traços paranoides. Essa fixação dele com Lula é doentia. Um camarada com a projeção que já teve, e que reduziu a sua vida, o seu projeto, a uma mágoa. Isso é uma paranoia — avalia.
Sem tanques
O ex-presidente do PSB lembra que o Ciro Gomes com quem ele conviveu “um pouco antes do governo, durante e um pouco depois do governo, que foi do PSB, era um quadro totalmente diferente desse que está aí”.
Ainda na avaliação do ex-ministro, um golpe militar não está descartado.
Não descarto nada — responde Amaral.
Para ele, um golpe no sentido clássico (militares colocando tanques nas ruas) é inviável, “para tomar ou manter o poder, com ou sem Bolsonaro.
Mas vejo uma continuidade do golpe. Estou pensando em golpe híbrido. Que começa a se instalar em 2016 e vem avançando, mudando a estrutura institucional brasileira, com privatizações, restrições dos direitos trabalhistas e previdenciários, controle do orçamento pelo Congresso, orçamento secreto de R$ 16,5 bilhões, pronunciamentos permanentes dos militares. Tudo isso é aprofundamento do que chamo de golpe híbrido — resumiu.
Fonte: CdB