Os números do Datafolha também revelam que até agora a chamada “terceira via” tem sido praticamente inexistente. O pré-candidato Ciro Gomes (PDT) aparenta dificuldades de crescimento, tanto à esquerda quanto à direita, enquanto o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aparece próximo ao traço
As intervenções “desastrosas” da deputada Carla Zambelli (PSL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) durante o depoimento do ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação (Secom) Fabio Wajngarten, que quase foi preso na CPI da Covid, demonstram o “desespero” que tomou conta dos integrantes da base bolsonarista. As considerações são do cientista político Claudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Na mesma medida, mas com sinal invertido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se consolida com ampla vantagem na liderança da corrida presidencial de 2022.
Os números do Datafolha também revelam, segundo o especialista, que até agora a chamada “terceira via” tem sido praticamente inexistente. O pré-candidato Ciro Gomes (PDT) aparenta dificuldades de crescimento, tanto à esquerda quanto à direita, enquanto o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aparece pouco acima da margem de erro. É o que aponta o cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cláudio Couto Cláudio Couto.
— É muito provável que a tenhamos um grande desgaste do governo Bolsonaro. Não é à toa que ele temia tanto a CPI. Por outro lado, se o governo atual, que se apresentou como o mais antipetista nas últimas eleições, se desgasta, por contraste, fortalece o seu antagonista — disse Couto, em entrevista nesta quinta-feira à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA).
Recorte
Diante desse quadro, Couto afirma que a sobrevivência da chamada “terceira via” vai depender da capacidade de articular os diversos postulantes desse campo em uma candidatura única. O contínuo desgaste do governo Bolsonaro, por outro lado, abre a possibilidade para que essa candidatura mais moderada possa a vir a ocupar o espaço da direita. O cientista ressalva, contudo, que tudo isso vai depender da evolução do cenário até o ano que vem.
“O que parece um pouco mais definitivo é que o campo da esquerda tende a ficar ocupado de maneira mais estável pelo ex-presidente Lula. O campo da extrema-direita tem o Bolsonaro. Mas é preciso ver o quanto esse campo consegue se expandir em direção à direita tradicional e centro direita”, frisou Couto. “Esse espaço está se reduzindo. Por isso é preciso prestar atenção na construção dessa candidatura ao centro. Se se fortalecer, deve pegar essa herança que Bolsonaro pode deixar.”
A pesquisa Datafolha revela, ainda, que a avaliação da gestão Bolsonaro varia dentro de grupos específicos. A aprovação é mais elevada entre os homens (29% deles consideram o governo ótimo ou bom) do que entre as mulheres (entre elas, a porcentagem cai para 21%).
No recorte por idade, o governo possui o pior desempenho entre os cidadãos mais jovens. Entre pessoas com 16 a 24 anos, apenas 13% acham a gestão ótima ou boa. O maior índice de aprovação é encontrado na faixa dos que têm 60 anos ou mais, em que 29% expressam opinião positiva.
Discrepâncias
A classificação por escolaridade, por sua vez, demonstra impopularidade maior entre os que estudaram mais. Enquanto entre os brasileiros com ensino superior chega a 57% a taxa de ruim ou péssimo, o percentual despenca para 40% entre as pessoas que têm só o ensino fundamental.
De acordo com o critério de renda, a maior rejeição se encontra na faixa acima dos dez salários mínimos mensais: 63% consideram o governo ruim ou péssimo. O percentual recua para 45% entre os mais pobres (com até dois salários), se mantém nos 45% no grupo de dois a cinco salários e chega a 47% no de cinco a dez.
A comparação regional também expõe discrepâncias. Nordeste (51%) e Sudeste (47%) dão ao governo Bolsonaro os maiores índices de ruim ou péssimo, enquanto os maiores percentuais de ótimo ou bom se apresentam nas regiões Centro-Oeste/Norte (31%) e Sul (29%).
Religiosos
Há ainda uma tendência de maior reconhecimento positivo à gestão federal em municípios do interior do que em capitais e grandes cidades. Nas regiões metropolitanas, 50% acham o governo ruim ou péssimo, percentual que diminui para 41% nas cidades de porte menor.
Em relação à cor, é no grupo dos que se declaram pretos que o governo enfrenta a maior reprovação, com 53% de ruim ou péssimo. Já os brancos dão à gestão de Bolsonaro o maior percentual de ótimo ou bom (27%), taxa semelhante à que ocorre entre os pardos (24%). Entre os pretos, são 18%.
Na parcela dos evangélicos, que historicamente dá sustentação ao presidente e é por ele constantemente afagada, a aprovação bate os 33%. O índice cai para 23% entre católicos e 15% entre espíritas/kardecistas. Esse terceiro grupo é também o que mais exibe rejeição (69% de ruim ou péssimo).
Desempregados
Quando a categorização dos entrevistados é feita por ocupação principal, a taxa de ruim e péssimo alcança 58% na classe dos funcionários públicos. Entre empresários, por outro lado, a porcentagem de reprovação desce para 26%, o melhor resultado para a gestão.
Os grupos que sinalizam maior rejeição, na sequência dos servidores públicos, são: estudantes (57%), desempregados que procuram emprego (53%) e assalariados sem registro em carteira (50%).
O humor do brasileiro sobre o governo Bolsonaro foi aferido pelo Datafolha duas semanas depois da instalação da CPI da Covid no Senado. A comissão parlamentar de inquérito já ouviu ex e atuais auxiliares do presidente e vem produzindo arranhões na imagem do governo em relação à crise de saúde.
Fonte: CdB