Estava desaparecido desde o início do ano
O ex-motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, foi finalmente encontrado. Ele estava desaparecido desde o início do ano, depois que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), flagrou uma movimentação suspeita, inicialmente de R$ 1,2 milhão, entre 2016 e 2017, quantia depois elevada para R$ 7 milhões, quando a avaliação do Coaf retrocedeu até 2014.
Ele e toda a sua família eram lotados no gabinete de Flávio, no Rio, e no gabinete de Jair Bolsonaro, em Brasília.
Reportagem da revista Veja descobriu que Queiroz está morando no Morumbi, bairro de luxo na Zona Oeste de São Paulo, e continua fazendo tratamento médico no Hospital Israelita Albert Einstein, o mais caro do país, que também está localizado no Morumbi.
A investigação do Ministério Público do Rio e da Polícia Federal sobre a lavagem de dinheiro conduzida por Queiroz no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, está paralisada por determinação do ministro Dias Toffoli, do STF. Toffoli atendeu ao pedido do filho do presidente e decidiu que o Coaf não pode repassar informações de movimentações suspeitas para investigadores sem autorização judicial.
À decisão de Toffoli se somaram outras medidas, comandadas pelo próprio Jair Bolsonaro, para abafar o caso envolvendo seu filho, e para barrar as investigações. A primeira foi a retirada do Coaf do âmbito do Ministério da Justiça e sua transferência para o ministério da Economia.
A segunda foi a demissão do chefe do Coaf, Roberto Leonel, que havia sido indicado por Sérgio Moro, e que reclamara da decisão de Toffoli de impedir as comunicações do Coaf ao MP e à PF. Não satisfeito com a demissão do “infiel”, Bolsonaro acabou com o próprio Coaf, criando outro órgão que, segundo ele, faria a mesma coisa, só que debaixo do terceiro escalão do Banco Central.
Mas faltava ainda uma outra instituição que estava no encalço de Flávio Bolsonaro e Queiroz. A Polícia Federal. Ela tinha conduzido a Operação Furna da Onça, que desmontou um esquema milionário de propina na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e levou para cadeia dez deputados estaduais. Nesta operação foram detectadas irregularidades no gabinete de Flávio Bolsonaro. O presidente não engoliu essa atuação da PF.
Criou uma crise na direção da Polícia Federal ao atropelar o Ministro da Justiça e a direção do órgão, demitindo publicamente o superintendente da PF do Rio de Janeiro com o pretexto de falta de produtividade. E o pior, ainda tentou colocar no lugar um delegado ligado a Flávio Bolsonaro. Os delegados ameaçaram afastamento coletivo caso isso ocorresse, e Bolsonaro teve que desistir.
A PF e o Ministério Público foram alvos da perseguição do Palácio do Planalto porque suspeitavam de um esquema de lavagem de dinheiro montado dentro do gabinete do parlamentar do PSL. Houve quebras de sigilo de dezenas de pessoas para investigar possíveis ligações de Queiroz com lavagem de dinheiro, inclusive das milícias. Adriano Nóbrega, ex-PM, miliciano e assassino de aluguel, condenado e fugitivo, foi homenageado por Flávio Bolsonaro e tinha a mãe e a mulher lotadas no gabinete do parlamentar.
Os investigadores queriam explicações para as movimentações financeiras e para o pagamento em espécie de mais de 100 mil para o tratamento inicial de Queiroz ao Hospital Albert Einstein.
De lá para cá, Queiroz estava desaparecido. Ninguém sabia dele até que a Veja o flagrou disfarçado em São Paulo. Coincidentemente, ele foi lembrado nesta semana pelo deputado Alexandre Frota (PSDB), quando Jair Bolsonaro atacou o governador de São Paulo, João Dória, afirmando que o tucano usara indevidamente dinheiro público para comprar um jato da Embraer.
Frota rebateu seu antigo líder dizendo que era melhor pedir dinheiro emprestado num banco público, como Dória teria feito, do que “pegar o dinheiro com o Queiroz”. O plenário do STF deverá analisar em breve a decisão monocrática de Toffoli e, se for revertida, Queiroz deverá ser ouvido sobre as movimentações ilegais conduzidas por ele e por Flávio Bolsonaro.
Do HP