Para Paulo Teixeira, o que se deve destacar do episódio é que “Bolsonaro está colecionando derrotas”. Jandira Feghali concorda, mas pondera: “Nesse governo ninguém recua, só fogem pra frente. Vamos ver a atitude deles agora”
São Paulo – A prisão do presidente do PTB, o bolsonarista Roberto Jefferson, já era esperada e não ameaça conturbar ainda mais o ambiente político do país, na opinião de parlamentares da oposição. O ex-deputado federal foi preso na manhã desta sexta-feira (13), em sua residência, no Rio de Janeiro, por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, depois de pedido da Polícia Federal. Ele postou de maneira sistemática nas redes sociais ameaças a instituições e ministros do STF, é contumaz incentivador do ódio e defende invasão do Congresso. A PF apreendeu armas, munições e celulares na casa do político.
Portanto, o desfecho do encarceramento já era esperado, como ocorreu com o também deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), por motivos semelhantes. “Era mais do que previsível. Ele estava abusando”, diz Paulo Teixeira (PT-SP). A prisão pode aumentar ainda mais a temperatura do ambiente político já permanentemente alta pela violência verbal bolsonarista? “É o contrário, enfraquece ainda mais um presidente que já está fraco”, acrescenta.
Para Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a prisão de Jefferson é natural, no processo que transcorre no STF. A determinação de Moraes se deu no âmbito do inquérito que investiga milícias digitais, desdobramento do inquérito que apura atos antidemocráticos. “Roberto Jefferson tem sido muito agressivo às instituições democráticas, usando armas, ameaçado correntes políticas, abusando absurdamente dos meios de comunicação para incitar ódio e violência, ameaçado ministros e o STF”, lembra.
Ameaças continuam
Mesmo com a ordem de prisão decretada, a verborragia incompatível com a democracia do bolsonarista prosseguiu. Antes de ser detido, ele reagiu à ordem de prisão com gravações nas quais se refere a Alexandre de Moraes como “cachorro do STF” e disse, em tom de ameaça, que no futuro vai resolver a questão com o ministro “pessoalmente”.
“Festival de baixarias e mentiras no áudio de Roberto Jefferson após receber mandado de prisão”, tuitou o deputado Ivan Valente (Psol-SP). “Comprova acusações que lhe pesam ao redobrar ameaças. Falou em ‘resolver pessoalmente’ com Alexandre de Moraes, delirou sobre mensalão chinês do STF e vomitou homofobia. Já vai tarde!”
Em 22 de julho, o presidente do PTB publicou vídeo em que aparece com duas armas em punho fazendo ameaças ao embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming. Ele chamou o diplomata de “macaco chinês” e afirmou que o embaixador “precisa ser expulso do país”. Também por ordem de Alexandre de Moraes, o perfil de Jefferson no Twitter foi derrubado. Já Wanming, sem citar nomes, postou na manhã de hoje um tuíte com figurinhas de aplausos seguidas da frase: “Lindo dia para todos!!!”
O deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) tuitou desejando “que Carlos Bolsonaro siga o mesmo caminho de Roberto Jefferson”. O vereador do Republicanos (RJ), conhecido como o filho “zero 2” do presidente da República, é citado dezenas de vezes no inquérito dos atos antidemocráticos. Ele é investigado como suposto coordenador de redes que disseminam ódio e atacam as instituições democráticas.
Garantismo a delinquente não
Aliados de Bolsonaro protestaram após a prisão de Jefferson, invocando garantias constitucionais que sempre atacaram e que não se aplicam quando seu uso atenta contra a própria democracia. “Onde se escondem os autoproclamados garantistas quando algo assim acontece? Se é com um apoiador do presidente vale tudo?”, questionou a deputada Bia Kicis (PSL-DF), por exemplo. “Jefferson cometeu crimes. Nós somos garantistas para garantir direitos, mas não direitos de delinquente”, resumiu Paulo Teixeira.
Para ele, o que se deve destacar do episódio é que “Bolsonaro está colecionando derrotas”. Foram os casos, esta semana, dos fracassos do voto impresso e do “distritão”, na Câmara, e da prisão de Jefferson, destaca o parlamentar.
“Agora, nesse governo ninguém recua, só fogem para a frente”, pondera Jandira. “Vamos ver qual será a atitude deles agora. Espero que respeitem a decisão da Justiça. As investigações chegaram a eles, e a investigação vai correr.
O contraditório e a ampla defesa certamente serão garantidos”, conclui a deputada.
Fonte: RBA