Pazuello foi criticado por repetir a estratégia da véspera, quando impôs-se por sua condição de general no início da sessão e foi agressivo com o senador Renan Calheiros, relator da comissão. A repreensão pública começou pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM) e pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM)
No segundo dia de interrogatórios ao general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde durante a pandemia do novo coronavírus, na CPI da Covid, nesta quinta-feira, predominaram os discursos de senadores independentes e de oposição contra as declarações do militar. Pazuello foi repreendido pelos parlamentares ao tentar abrir os trabalhos com um discurso louvando sua condição de general.
Pazuello foi criticado por repetir a estratégia da véspera, quando impôs-se por sua condição de general no início da sessão e foi agressivo com o senador Renan Calheiros, relator da comissão. A repreensão pública começou pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM) e pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM).
Braga havia perguntado sobre a posição de Pazuello a respeito do uso de máscaras e distanciamento social e ele começou um discurso com sua condição de militar: “eu sou oficial general”, afirmando ter compromisso com a verdade porque isso “é parte do manual do Exército”.
Cloroquina
Nesse momento, foi interrompido por Eduardo Braga que reclamou do discurso e pediu que ele respondesse à pergunta. Omar Aziz em seguida afirmou que o ex-ministro está na CPI para responder às perguntas dos senadores.
Pazuello também foi questionado sobre o aplicativo TrateCov, lançado em janeiro pelo Ministério da Saúde para ajudar médicos a diagnosticar pessoas com covid-19 e previa que os pacientes assumissem o risco de “eventos adversos” caso aceitassem o chamado tratamento precoce com cloroquina e ivermectina, medicamentos sem comprovação científica para o tratamento contra a infecção.
O aplicativo foi lançado pelo ex-ministro Eduardo Pazuello, no dia 11 de janeiro, durante uma solenidade em Manaus, capital do Amazonas. Em depoimento à CPI, na véspera, o general disse que a secretária da pasta Mayra Pinheiro foi a responsável pela criação da plataforma e negou que a ferramenta tenha entrado em funcionamento.
Registros do ministério e do governo do Amazonas mostraram, no entanto, imagens da solenidade de lançamento e indicaram, por exemplo, que, no dia 14 de janeiro, a pasta celebrou a adesão de 342 médicos no sistema – na época já em funcionamento. A plataforma, que Pazuello disse ter sido “hackeada”, porém, foi motivo de extensa matéria na TV Brasil, do governo federal.
Contradição
Em janeiro, usuários do Twitter criaram perfis fictícios para acessar o aplicativo do ministério da Saúde e constataram que a plataforma receita a cloroquina contra a covid-19, diferentemente do que havia dito Pazuello na época. Pessoas que nem sabiam se estavam com a doença receberam como sugestão o uso do remédio, que também valeu até para recém-nascidos.
Em nota, o Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou que, assim como em janeiro, alertou o Ministério da Saúde sobre “inconstâncias” no aplicativo. Entre elas o fato de que a plataforma “assegurava a validação científica a drogas que não contam com esse reconhecimento internacional”.
Ainda no interrogatório, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) expôs o ex-ministro em nova contradição. O vice-presidente da comissão questionou o general sobre uma mensagem do Ministério da Saúde anunciando a intenção de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac que foi deletada após Jair Bolsonaro ter desautorizado a compra.
Segundo o senador, a postagem dizia: “Reforço contra a Covid-19: o ministro da Saúde Eduardo Pazuello anunciou hoje a assinatura do protocolo de intenções para adquirir 46 milhoes de doses da vacina do Butantan”.
“Retirado? Senador, eu não faço uso de Twitter… Nem tenho Twitter. Não acompanho o Twitter. Não mandei tirar nada.”, respondeu Pazuello.
O senador relembrou da declaração do ex-ministro sobre sua relação com o presidente, “um manda, o outro obedece”. Pazuello se engasgou nas respostas.
‘Isso é crime’
O médico e senador Otto Alencar (PSD-BA), que também integra a CPI, questionou ao mesmo tempo em que ironizou o desconhecimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello sobre a covid-19.
— Dava pra ter feito um cursinho básico — ressaltou.
Segundo Alencar, Pazuello “não sabe nem o que é a doença”.
— Não poderia ser ministro. É uma coisa muito grave. Saber o que o senhor estava tratando. É um absurdo. A situação do MS no sue período deixou completamente a desejar em todos os pontos. Faltou conhecimento médico. O senhor não tem. O senhor sabe as fases da doença? O presidente nunca visitou um hospital de campanha. Foi lancha, passeio em praia, montando em cima de cavalo. Isso é crime. O seu período foi negativo, não cumpriu determinações medicas — criticou.
Fonte: CdB