Deputados de várias siglas da Alemanha rechaçaram as declarações do presidente brasileiro: “Falsificação da história, um ultraje nojento”
As declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de que o nazismo foi um movimento de esquerda , não foram bem recebidas por políticos de todos os partidos que compõem o Parlamento alemão, de acordo com informações da agência de notícias alemã DW nesta sexta-feira (5).
Para os deputados, a comparação feita pelo governo brasileiro é inaceitável. “Os nazistas já usavam conscientemente a distorção política como instrumento da sua propaganda fascista. O fato de Jair Bolsonaro se apoiar nesta mentira é um ultraje nojento às vítimas do nazismo”, disse a deputada Yasmin Fahimi, presidente do Grupo Parlamentar Teuto-Brasileiro no Parlamento Alemão.
Deputada do Partido Social-Democrata (SPD), o mais antigo da Alemanha, Fahimi também destacou que as primeiras vítimas dos nazistas foram os social-democratas e sindicalistas, além de ressaltar que o nazismo foi uma ideologia de extrema-direita, conhecido pela desumanidade e racismo.
“Essas declarações difamam a memória das vítimas da violência nazista. Um movimento de esquerda luta pela liberdade e igualdade das pessoas, ou seja, justamente o contrário”, salientou. Sahimi faz parte da coalizão que governa a Alemanha formada pela União Democrata-Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, e da União Social-Cristã (CSU).
Outro que condenou as declarações do governo brasileiro foi Omid Nouripour, porta-voz de política externa do Partido Verde. “Isso é uma distorção e falsificação massiva da verdade histórica. A tentativa de desacreditar a esquerda com esse absurdo é uma manobra concertada internacionalmente pela extrema direita para desviar a atenção de sua política vazia, porém, desumana”, afirmou.
Nouripour lembrou ainda que o nome Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) foi uma estratégia para que a classe trabalhadora fosse atraída, além de dizer que a legenda é a mais extremista de direita que já existiu. Ter “socialista” no nome, vale lembrar, que é o principal argumento de Bolsonaro e Araújo para dizer que o nazismo era de esquerda .
Martin Hess, deputado da legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), lembrou que já houve um debate parecido no país berço do nazismo no passado e destacou que o presidente brasileiro se baseou em argumentos do escritor Olavo de Carvalho, considerado seu “guru intelectual”.
“Nosso partido, se concentra em encontrar soluções para problemas atuais e ameaças à nossa segurança e ao nosso bem-estar. Assim, devemos deixar debates históricos para historiadores e filósofos”, ponderou Hess.
Outro que reiterou a posição contrária a Bolsonaro sobre o nazismo foi Peter Weiss, do partido conservador CDU. “O nazismo não foi um ‘movimento de esquerda’, mas um movimento nacionalista, völkisch e racista, que conduziu a uma catástrofe na Alemanha e Europa”, disse o deputado, que faz parte do grupo parlamentar alemão que mantém relações com o Congresso brasileiro.
Membro do Partido Liberal Democrático (FDP), Gero Hocker também foi duro em sua crítica. “Em vez de fazer comparações históricas inadmissíveis, Bolsonaro deveria promover em seu gabinete a vigência das condições básicas legais confiáveis também para investidores estrangeiros em seu país, impulsionar a educação e cortar impostos para trabalhadores e empresários para, assim, atrair investidores e fortalecer o poder de compra”, opinou.
Por fim, o deputado Alexander Ulrich, do partido A Esquerda, disse que as declarações do presidente e do chanceler demonstram ignorância massina ou são negação deliberada da história e política.
“Isso é para um presidente, especialmente de um país grande como o Brasil, extremamente dramático e perigoso. Com essas declarações, Bolsonaro quer desacreditar a esquerda, no entanto, ele acaba apenas se ridicularizando”, pontuou, além de dizer que o movimento de extrema-direita do nazismo nada tem a ver com a esquerda.
“Pelo contrário, vejo uma série de traços do nazismo na própria política de Bolsonaro. Ficaria surpreendido se ele descrevesse a si próprio como de esquerda”, acrescentou.
O tema voltou aos holofotes no fim da viagem de Bolsonaro a Israel, quando ele disse “não ter dúvidas” de que o nazismo foi de esquerda, mesmo após visitar o Museu do Holocausto, instituição que define o nazismo como de direita. Antes, o chanceler Ernesto Araújo havia dito que o nazismo foi um “fenômeno” de esquerda .
Do ig