Paranóico, Bolsonaro monta armadilha contra manifestantes da esquerda

A informação sobre o plano do mandatário neofascista contra as manifestações, no domingo, já teria chegado aos ministros da Suprema Corte. Bolsonaro acredita que o ministro Alexandre de Moraes, com ligações no PSDB, estaria disposto a trabalhar pela campanha de Doria à Presidência da República

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Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido), convencido de que há um complô para derrubá-lo do governo, estaria pronto a montar uma armadilha contra os integrantes da centro-esquerda que participarem dos protestos de rua, marcados para o próximo fim de semana. Ele acredita que, ao lado dos manifestantes, estariam envolvidos no suposto esquema para apeá-lo do poder o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, o ministro Alexandre Moraes, do STF (STF), e o governador do Estado de São Paulo, João Doria.

A informação sobre o plano do mandatário neofascista já teria chegado aos ministros da Suprema Corte, segundo a jornalista Mônica Bergamo, em nota publicada nesta quinta-feira no diário conservador paulistano Folha de S.Paulo (FSP). 

Bolsonaro acredita que o ministro Alexandre de Moraes, com ligações no PSDB, estaria disposto a trabalhar pela campanha de Doria à Presidência da República, em 2022. O maior medo do mandatário neofascista, ainda segundo Bergamo, é sofrer um desgaste irreparável em sua gestão, ao ponto de ser alvo de um processo de impeachment, autorizado por Maia. Outro pavor do presidente seria a cassação da chapa pela qual foi eleito, em 2018, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde um processo pelo crime de disseminar notícias falsas começará a ser julgado, na semana que vem.

Violência

Para o jornalista Fábio Lau, editor-chefe do site de notícias Conexão Jornalismo, em uma nota publicada nesta manhã, nas redes sociais, “Bolsonaro acionou o berrante e conclamou o ‘gado’ a permanecer no pasto, no fim de semana”. Segundo Lau, os motivos são diversos e vão desde “infiltrar covid-19 nas manifestações democráticas e querer proteger 30%”, ou seja, o seu eleitorado, até “infiltrar P2 (espiões) nas manifestações democráticas, para quebradeira geral, e justificar massacre”.

Lau também desconfia que Bolsonaro poderá promover a violência nas manifestações e sufocar manifestantes com PMs e artilharia pesada – sem necessidade de P2”. O mandatário neofascista ainda teme ver o ‘gado’ apanhando e sendo desmoralizado pelas torcidas antifascistas”, ou “tudo isso e mais um pouco”.

“Que tem, tem”, desconfia o jornalista.

Justificativa

Na mesma linha de que há uma armadilha sendo armada, o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares escreveu um artigo, divulgado nesta quinta-feira, no qual faz um apelo “a todas e todos que sabem o que significaria um golpe policial-militar, sob liderança fascista”.

“Os sinais são assustadores, ostensivos e crescentes. Hoje, o vice-presidente publicou um artigo absurdo e ameaçador no Estadão. Aras, embora tenha se corrigido depois, disse ao Bial que as Forças Armadas poderiam, sim, intervir se um poder invadisse a seara do outro, numa clara alusão crítica ao Supremo”, escreveu Soares.

Ainda segundo o antropólogo, “Ives Gandra está a postos para escrever a justificativa ‘constitucional’ do golpe. Nunca faltaram juristas aos generais; não faltarão ao capitão. Eduardo Bolsonaro confirmou: a ruptura está decidida, espera-se apenas a oportunidade. O presidente sobrevoou manifestação contra o Supremo e o Congresso ao lado do ministro da Defesa”.

“Precisa desenhar?”, questiona.

Vandalismo

A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) também fez um alerta pelas redes sociais, para que “as manifestações em defesa da Democracia não sejam desvirtuadas por infiltrados”. A sua manifestação reforça o aviso feito pela jornalista Dulce Janotti que, em seu Facebook, externou considerar estranho que grupos radicais, que já se manifestaram no Brasil há alguns anos, estejam agora ressurgindo a pretexto de enfrentar o movimento não menos radical que segue Bolsonaro.

“O alerta ecoa a depredação ocorrida após a manifestação desta segunda-feira em Curitiba. Basta uma vitrine quebrada, um carro vandalizado para que o foco da cobertura da mídia seja desviado e o vandalismo apareça mais que as bandeiras defendidas pelos manifestantes.

“Também vale lembrar que as forças de segurança pública são essencialmente bolsonaristas. Isso já se refletiu no confronto ocorrido no domingo na Avenida Paulista. A Polícia de São Paulo agiu para dispersar os manifestantes pela democracia com bombas e tiros de balas de borracha; e protegeu os bolsonaristas, que estavam em número muito menor”, escreveu a deputada.

Manifestações

Na direção contrária, o líder do partido PSOL, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e da Frente Povo Sem Medo, Guilherme Boulos rebate as opiniões que assinalam o risco de um golpe de Estado, na base das manifestações antifascistas marcadas para o próximo domingo.

“Discordo em relação às manifestações de domingo”, escreveu o líder do MTST. “O que vimos na semana passada, puxado por torcedores organizados, foi um passo fundamental na resistência ao fascismo: a demonstração de que a rua não é deles.”

“Tenho muito respeito por Luiz Eduardo, um intelectual de primeira linha e uma figura humana extraordinária. Como ele, tenho grande preocupação com a ascensão do fascismo bolsonarista e não considero as liberdades democráticas simples formalidades. Foram conquistadas com sangue e luta de toda uma geração de brasileiros. Mas discordo em relação às manifestações de domingo. O que vimos na semana passada, puxado por torcedores organizados, foi um passo fundamental na resistência ao fascismo: a demonstração de que a rua não é deles. Não basta sermos maioria na sociedade”, escreveu.

Brigadas

“Não basta assinarmos manifestos unitários, que julgo importantes, aliás subscrevi todos. Mas a hegemonia fascista, mesmo minoritária, se afirma nas ruas. Foi assim com os Camisas Negras de Mussolini e com as milícias hitleristas. Poderia ter sido assim com os integralistas de Plinio Salgado no Brasil se os comunistas não os tivessem enxotado das ruas”, acrescentou.

Segundo Boulos, “se normalizamos gente defendendo AI-5 e agredindo opositores, jornalistas e enfermeiras em praça pública, daqui a pouco não teremos condições de dar as caras. Sei que a questão não é simples. Além do mais, estamos em meio a uma pandemia. Mas na conversa entre os organizadores da manifestação do próximo domingo, ao menos em São Paulo, haverá um enorme esforço para manter o distanciamento e as precauções sanitárias. 

“O Povo Sem Medo organizou uma brigada de saúde para isso com centenas de voluntários. O MTST vai distribuir 4 mil máscaras na Avenida Paulista, feitas pelas cooperativas de costureiras do Movimento. A orientação da organização do ato será uma manifestação pacífica e de inibir infiltrados”, acrescentou.

Nas ruas

Boulos sublinha: “claro que sempre há um risco. Devemos fazer de tudo para minimizá-lo. Mas, convenhamos, o outro lado não precisa de pretextos nossos para endurecer. Se ficarmos parados tampouco temos qualquer garantia”. 

Ainda de acordo com o líder da centro-esquerda, “Bolsonaro avança na escalada autoritária. Sei dos riscos, mas não creio que se deixarmos as ruas para eles estaremos impedindo essa marcha. Por isso, o MTST e o Povo Sem Medo estarão nas ruas no domingo. E eu também estarei lá”, conclui.

Fonte: CdB

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