Ofensiva devastadora dos Houthis: Três brigadas sauditas aniquiladas

Uma verdadeira mudança na situação do Médio Oriente
Esta notícia foi omitida pela maior parte da mídia corporativa

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Até agora, muitos poderiam ter sido levados a acreditar que os Houthis eram uma força armada esfarrapada e sem sofisticação. Outros, vendo os ataques de drones e mísseis às instalações petrolíferas sauditas, podem ter achado que seria um ataque de “falsa-bandeira” realizado por Riad para aumentar o valor de mercado da Aramco; ou então numa operação realizada pelo Irã ou mesmo Israel. Porém, em 28 de setembro, os Houthis puseram fim a estas especulações confirmando, o que havia sido escrito há meses; isto é, que as táticas assimétricas dos Houthis, combinadas com as capacidades convencionais do exército iemenita, são capazes de por de joelhos o reino saudita de Mohammed Bin Salman.

As forças de mísseis do exército iemenita mostraram ser capazes de realizar ataques altamente complexos, sem dúvida em resultado de informações fornecidas pela população xiita na Arábia Saudita, que é contra a ditadura da Casa de Saud. Esses simpatizantes Houthis ajudaram na identificação dos alvos, realizaram o reconhecimento dentro das instalações atacadas, descobriram os pontos mais vulneráveis e transmitiram essas informações ao exército Houthi e iemenita. As forças iemenitas empregaram meios produzidos localmente para degradar severamente as unidades de extração e processamento de petróleo bruto da Arábia Saudita, ataques que reduziram a quase metade a produção de petróleo e ameaçaram continuar ataques com outros alvos se o genocídio levado a cabo pela Arábia Saudita no Iémen não cessasse.

Em 28 de setembro, os Houthis e o exército iemenita realizaram um ataque convencional incrível, com duração de três dias, iniciado dentro das fronteiras do Iémen. A operação envolveu meses de recolha de informações e planejamento operacional . Foi um ataque muito mais complexo do que o realizado contra as instalações de petróleo da Aramco. Os relatórios iniciais indicam que as forças da coligação liderada pela Arábia Saudita foram atraídas para posições vulneráveis e, em seguida, através de um movimento de cerco conduzido rapidamente dentro do território saudita, os Houthis cercaram a cidade de Najran e seus arredores e submeteram a maior parte de três brigadas sauditas com efetivos da ordem dos milhares, incluindo dezenas de oficiais superiores, além de inúmeros veículos de combate. Este acontecimento é um divisor de águas, deixando os EUA, Mike Pompeo, israelenses e sauditas incapazes de culpar o Irã, pois tudo isso ocorreu muito longe do daquele país.

A operação em larga escala foi precedida pela artilharia de mísseis do Iémen, que atingiu o aeroporto de Jizan com 10 mísseis paralisando qualquer movimento de e para o aeroporto, inclusive negando a possibilidade de apoio aéreo às tropas cercadas. Os Houthis também atingiram o aeroporto internacional King Khalid, em Riad, numa importante operação que atingiu os helicópteros Apache, forçando-os a deixar a área. As bases militares próximas também foram alvejadas, a fim de interromper quaisquer reforços e interromper a cadeia de comando. Isso levou as forças sauditas a fugir em desorganização.

As imagens divulgadas pelos Houthis mostram uma estrada no meio de um vale nos arredores de Najran, com dezenas de veículos blindados sauditas tentando fugir enquanto são atacados por ambos os lados por mísseis Houthis, juntamente com armas pesadas e leves. A confirmação visual do desastre pode ser vista no número de baixas e no número de prisioneiros. Imagens mostram fileiras de prisioneiros sauditas a marcharem sob guarda iemenita em direção a campos de prisioneiros.

Isto é algo extraordinário de se ver: o exército saudita, o terceiro maior comprador de armas do mundo, a ser amplamente atacado por um dos países mais pobres do mundo. Os números dizem tudo: os Houthis conseguiram controlar mais de 350 quilómetros do território saudita, enquanto que o orçamento militar saudita é de quase 90 bilhões de dólares por ano, essa conquista é ainda mais extraordinária.

As forças Houthis empregaram drones, mísseis, sistemas antiaéreos e guerra eletrônica para impedir que os sauditas apoiassem as suas tropas com aviação ou outros meios para ajudar os seus militares presos. Os depoimentos de soldados sauditas sugerem que os esforços para resgatá-los foram pouco sinceros e pouco efeito tiveram. Os prisioneiros de guerra sauditas acusam os seus líderes militares de tê-los abandonado como presas aos seus oponentes.

O exército iemenita e os Houthis em menos de dez dias foram capazes de infligir golpes devastadores à credibilidade dos sistemas de defesa dos EUA e das forças armadas sauditas. Fizeram isso utilizando métodos criativos adequados ao objetivo em questão.

Em primeiro lugar, revelaram a vulnerabilidade interna do Reino através de um nível de penetração na Arábia Saudita conseguindo realizar reconhecimento interno com a ajuda de infiltrados ou colaboradores locais, para saber exatamente onde atingir as instalações de petróleo para obter o máximo de efeitos e danos. Posteriormente, demonstraram as suas capacidades técnicas e cibernéticas por meio de uma operação assimétrica, empregando drones de vários tipos, bem como guerra eletrônica para cegar os radares do sistema Patriot dos EUA, neste processo reduziram à metade a produção de petróleo da Arábia Saudita por um período de tempo que a Aramco ainda não determinou.

Finalmente, o aspeto mais surpreendente destes eventos é a recente operação terrestre no Iémen, realizada em território hostil e conseguindo cercar três brigadas compostas por milhares de homens e seus equipamentos. Milhares de soldados iemenitas leais a Ansarullah (Houthis) participaram nesta operação bem-sucedida, apoiada por drones, aeronaves de ataque ao solo e baterias de defesa antiaérea. Tais capacidades são normalmente associadas a militares bem treinados e bem equipados, do que a militares provenientes do Terceiro Mundo.

Os Houthis enviaram uma mensagem clara a Riad quando atingiram as suas instalações de petróleo. Eles efetivamente deixaram claro que tinham os meios e a capacidade de danificar o reino de forma irreparável, levando, finalmente, a queda da Casa de Saud.

O porta-voz do exército iemenita anunciou, depois de atingir as instalações petrolíferas sauditas, que interromperia todas as ações ofensivas usando drones e mísseis, deixando Riade decidir se as coisas parariam por aí e eles se sentariam à mesa de negociações para encerrar o conflito, ou se a Arábia Saudita estava com disposição para mais do mesmo tratamento.

Mohammed bin Salman, sem dúvida, teria recebido várias garantias dos americanos, explicando o fracasso dos sistemas Patriot e assegurando-lhe que mais assistência americana estava a caminho; e que, além disso, seria impossível chegar a um acordo com os Houthis, em particular tendo em conta que eles são considerados uma representação do Irã (uma mentira desmascarada); sem mencionar, é claro, a enorme perda de prestígio que uma capitulação representaria para sauditas, israelenses e americanos .

Já se fala em Riad de receber novos suprimentos do sistema THAAD (igualmente inúteis contra a guerra assimétrica Houthis) e outros sistemas de defesa aérea americanos muito caros. É péssimo para os sauditas que os EUA não tenham nada como os sistemas russos Pantsir e BUK, que permitem uma defesa aérea de várias camadas, ideal para a defesa de pequenos drones e mísseis de baixo voo que são difíceis de interceptar com sistemas como o Patriot e o THAAD.

Em vez de iniciar negociações de paz para parar o genocídio em curso no Iémen e evitar ser atingido novamente pelos Houthis em resposta, Mohammed bin Salman e seus assessores parecem ter achado adequado cometer outros crimes de guerra no Iémen.

Diante de tal intransigência, os Houthis seguiram em frente com um novo ataque ainda mais devastador para a moral saudita e desconcertante para os formuladores de políticas ocidentais. Milhares de homens e seus equipamentos foram mortos, feridos ou capturados num movimento de cerco, equivalente das ações das Republicas Populares de Donetsk e de Lugansk na Ucrânia, em 2015, onde as forças de Kiev foram igualmente cercadas e destruídas.

Geralmente estes movimentos de cerco exigem um reconhecimento completo para determinar onde melhor cercar o inimigo. Além disso, seriam necessários sistemas de apoio aéreo e de defesa antiaérea para afastar as respostas americanas e sauditas. Além de tudo isto, é necessário que as tropas, juntamente com seus equipamentos, tenham o treino necessário para os ataques, que exigem coordenação e execução rápida e eficaz de ordens. Todos esses requisitos foram cumpridos em resultado da excelente preparação e conhecimento do terreno pelo exército iemenita e pelos Houthis.

Se o ataque às instalações petrolíferas sauditas teve grande impacto, o ataque ainda mais dramático daquele sábado forçará Mohammed bin Salman e seus aliados americanos a enfrentar uma realidade muito dura. A Arábia Saudita, agora é preciso reconhece-lo, não tem capacidade de defender as suas fronteiras com o Iémen, deixando os Houthis e o exército iemenita livres para entrar no território saudita, mostrando como dão pouca importância à opinião e sentimentos dos sauditas e dos EUA.

Este é um xeque-mate triplo dos Houthis contra Riad. Primeiro, mostraram que tinham apoio local suficiente na Arábia Saudita para ter sabotadores internos prontos no caso de uma guerra total com o Irã ou o Iémen. Depois, mostraram que têm capacidade para prejudicar a produção de petróleo da Arábia Saudita. Em última análise, as forças convencionais do Iémen poderiam redesenhar as fronteiras entre a Arábia Saudita e o Iémen a favor deste último, caso os líderes iemenitas decidissem invadir e ocupar uma faixa do território saudita para garantir uma zona-tampão, já que as forças sauditas violaram a soberania do Iémen e massacraram civis inocentes nos últimos cinco anos.

Vale refletir sobre a importância desses eventos. O terceiro maior comprador de armas do mundo é incapaz de derrotar o país árabe mais pobre do mundo. Além disso, é incapaz de proteger seus interesses e fronteiras nacionais perante um país árabe empobrecido. Os Houthis mostraram ao mundo o que uma força armada pobre, mas organizada e motivada, pode fazer usando métodos assimétricos para colocar um dos exércitos mais bem equipados de joelhos. Esse conflito será estudado em todo o mundo como um exemplo de como um novo meio de guerra é possível quando as capacidades tecnológicas e cibernéticas são democratizadas e estão disponíveis para aqueles que sabem usá-las adequadamente, como os Houthis mostraram com o uso de drones e guerra eletrônica.

Com os Houthis desfrutando de um alto nível de motivação, através de uma combinação de capacidades de mísseis, detenção de muitos prisioneiros de guerra e com sabotadores espalhados por toda a Arábia Saudita (a propósito, um estranho incêndio ocorreu em Jeddah no dia 29 de setembro, na estação ferroviária de Al-Haramain), talvez seja hora de Riad aceitar as trágicas consequências de uma guerra inútil e sentar-se à mesa de negociações com Ansarullah.

Washington e Tel Aviv tentarão de todas as formas impedir tais negociações. Mas se Mohammed bin Salman e família desejam salvar o seu reino, é melhor começarem a conversar com os Houthis imediatamente. Caso contrário, é apenas uma questão de tempo até que outro ataque de Ansarullah leve ao completo colapso e ruína da Casa de Saud e do Reino da Arábia Saudita.

Fonte: Strategic Culture Foudantion

 

 

 

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