Os militares legalistas precisam, primeiro, controlar a inteligência das FAs, para não serem driblados pelos infiltrados do general Heleno
Por Luis Nassif
A cobertura da crise é uma colcha de retalhos de notas daqui e dali que precisam ser costuradas para mostrar toda a vestimenta.
Vamos a alguns pedaços:
Peça 1 – Heleno despachando do Palácio
Foi motivo de pilhéria nas redes a fala do “patriota”, no dia 2 de janeiro, dizendo que a ordem que veio de Brasília, para contornar o desânimo dos militantes, é que o General Heleno está despachando “de dentro do Palácio do Alvorada”. Dizia outras sandices.
“Heleno despacha do Palácio da Alvorada”, diz lunático bolsonarista ao relatar “golpe em curso”
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— Revista Fórum (@revistaforum) January 3, 2023
Obviamente confundiu de Palácio. Tratava-se do Palácio do Planalto. Mas, na algaravia de informações que chegavam aos “patriotas” sobressaía a informação do controle do general Heleno sobre o Palácio.
À medida em que o quebra-cabeças vai sendo montado, vai ficando nítida a informação de que a peça central do desmonte da defesa do Palácio foi o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) deixado pelo General Heleno. Uma excelente reportagem de Marcelo Godoy, no Estadão de hoje, mostrou a farsa dos infiltrados de Heleno.
O que demonstra que o novo governo ainda não tem controle dos sistemas de inteligência.
Peça 2 – nós perdemos, Mané
Viralizou a resposta do Ministro Luís Roberto Barroso aos provocadores, em Nova York: “Você perdeu, mané”. Seria mais apropriado um “nós perdemos, mané”.
Segundo o professor Francisco Teixeira, especialista em militares, a politização e partidarização da tropa se deveu ao “morismo”, não ao bolsonarismo. Jair Bolsonaro foi apenas a ferramenta política para a partidarização dos militares.
Ou seja, enquanto Barroso flanava de norte a sul, distribuindo entrevistas e palestras sobre o novo iluminismo, e surfando nas ondas da Lava Jato, ajudava a plantar as sementes da ultra direita militar.
Peça 3 – um poder sem rumo
Confira-se a Marinha.
Ex-comandante da Marinha no governo Bolsonaro, o almirante Almir Garnier Santos cometeu a insubordinação de sequer comparecer à posse de seu sucessor, o Almirante Marcos Sampaio Olsen. Recentemente, houve rixa em um grupo de WhatsApp da Marinha devido às críticas disparadas contra Olsen, pelo simples fato de ele ter agradecido a Lula por sua indicação.
Não se trata apenas de grosserias de grupos de WhatsApp, mas de uma amostra rápida de como o bolsonarismo emburreceu completamente o poder militar.
Olsen é a esperança da Marinha, finalmente, ter seu submarino nuclear, projeto que foi abafado nas gestões Temer-Bolsonaro. E a esperança é em função do fato do projeto do submarino ter nascido na gestão Nelson Jobim-Lula, como forma de defender a chamada Amazônia Azul e em função, também, do reatamento de relações com a França. Inclusive com a reabilitação do Almirante Othon, uma das referências do programa nuclear brasileiro. Será fundamental para a defesa da Elevação do Rio Grande – tema essencial sobre o qual escreverei amanhã.
Peça 4 – a cautela no desmonte dos golpistas
Por tudo isso, Merval Pereira está certo, ao recomendar cautela no tratamento da questão militar. Os militares legalistas precisam, primeiro, controlar a inteligência das Forças Armadas, para não serem driblados pelos infiltrados do general Heleno. Depois, fortalecer os postos chave com militares legalistas.
Para tanto, é essencial que o Ministério da Defesa lance as base de um novo Plano Nacional de Defesa, para dar um objetivo a esse pessoal e evitar a máxima de que “cabeça vazia é a oficina do diabo”.
A partir desses passos iniciais, será mais fácil separar os verdadeiros militares daqueles que se valem da força para proselitismo vazio.