"O Fim Da Era Das Tulipas"

Por Hassan Erel

Depois de 1990, os Estados Unidos, que se consideravam o único hegemon, proclamaram um “novo século americano”. Não havia outro rival no mundo que pudesse enfrentá-los. E os EUA começaram a ocupar o globo econômica e politicamente.

Nos anos 2000, o número de bases americanas em escala global chegou a 800. As embaixadas americanas ao redor do mundo agiam como governadores das colônias, moldando a política do país em que estavam localizadas. As instituições financeiras globais ocidentais, principalmente o FMI e o Banco Mundial, impuseram o neoliberalismo.

Com grandes gigantes farmacêuticos, petrolíferos, tecnológicos e financeiros, um sistema avassalador de trustes e cartéis foi criado no mundo. As instituições dos Estados Unidos, da OTAN e de Davos impuseram aos países candidatos a líderes, projetos de partidos políticos. Os Estados Unidos estabeleceram cerca de 350 laboratórios de armas biológicas em 30 países ao redor do mundo.

No entanto, a “época das tulipas”, ou “novo século americano”, só poderia reinar por 30 anos. Na verdade, esta é até uma estimativa otimista, já que a data final pode ser antecipada para o conflito na Geórgia em 2008 ou o anúncio da China da Iniciativa do Cinturão e Rota em 2013. No entanto, 2023 definitivamente e inegavelmente entrará nos livros de história como o ano em que o século americano terminou e a Nova Ordem Mundial começou.

Há algumas evidências fortes para isso. Em primeiro lugar, o dólar, que dá aos EUA a audácia de interferir em tudo e em todos os lugares do mundo, está sendo retirado do trono. Em um exemplo recente, Bangladesh anunciou que pagaria à Rússia para construir uma usina nuclear em yuan. Pela primeira vez, os países do BRICS ultrapassaram os países do G7 em termos de produto interno bruto total. Muitos países da África, Ásia, Oriente Médio e América do Sul estão se rebelando contra seus antigos mestres coloniais ocidentais.

Em segundo lugar, em uma reunião em 20 de março de 2023 em Moscou, os líderes da China e da Rússia concordaram em liderar o resto do mundo contra o Ocidente. Enquanto a China apoiará a Rússia econômica e politicamente, a contribuição da Rússia para a China incluirá commodities, cooperação militar e energética. Muitos países estão fazendo fila para ingressar na Organização de Cooperação de Xangai. A China reconciliou a Arábia Saudita e o Irã, visando resolver o problema palestino. A Rússia está caminhando para sua vitória esmagadora na Ucrânia.

Em terceiro lugar, os Estados Unidos estão social e politicamente divididos e estão afundando do ponto de vista econômico. Sua dívida nacional é de US$ 31 trilhões. O tesouro está vazio. O Federal Reserve não faz nada além de imprimir dinheiro. No entanto, à medida que a posição dominante do dólar como moeda de reserva enfraquecer, essa grande vantagem também será perdida. E não sobrou nada para a produção. A oligarquia ocidental global, imposta pelo neoliberalismo, acabou com o nacionalismo americano. A gigantesca indústria que tornou o país o mais poderoso durante a Segunda Guerra Mundial foi destruída. O capital global incorporado em Davos falhou em realizar a revolução do “Grande Reinício” que queria realizar de acordo com seu objetivo de domínio exclusivo.

Assim, uma “nova ordem mundial” diferente está sendo formada atualmente. E alguns políticos não sabem disso.

Fonte: cumhuriyet