Ideólogo de extrema direita que por décadas atuou como disseminador de teorias conspiratórias tinha 74 anos e estava hospitalizado nos EUA. Causa da morte não foi divulgada.
O escritor e ideólogo de extrema direita Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo, morreu na noite de segunda-feira, aos 74 anos, anunciou sua família por meio dos perfis oficiais do autor nas redes sociais.
Segundo a nota divulgada, Olavo estava hospitalizado na região de Richmond, no Estado norte-americano da Virgínia.
A causa da morte não foi divulgada, mas há uma semana familiares do ideólogo haviam afirmado em grupos privados no Telegram que ele estava com covid-19. Em 15 de janeiro, ele cancelou as aulas do curso virtual de filosofia e agitação política que ministrava.
“O professor deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos. A família agradece a todos os amigos as mensagens de solidariedade e pede orações pela alma do professor”, diz o texto.
Ao longo da pandemia, Carvalho expressou várias vezes acreditar que o coronavírus não existia e chegou a afirmar que a doença não passava de uma “historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão”.
Trajetória
Olavo de Carvalho nasceu em 29 de abril de 1947 na cidade paulista de Campinas. Ex-jornalista, Carvalho fundou no final dos anos 1970 um curso de astrologia. Na década de 1980 foi membro de uma ordem mística muçulmana.
Nos anos 1990, deu uma guinada e começou a se apresentar com filósofo, conquistando adeptos principalmente entre jovens conservadores ou de direita graças a um discurso de rejeição da modernidade. Carvalho também foi um pioneiro e importador de modernas teorias conspiratórias no Brasil, muitas vezes divulgando e adaptando fake news que circulavam em círculos de extrema direita no exterior.
Olavo, por exemplo, passou décadas denunciando uma suposta conspiração comunista mundial mesmo após o fim da URSS e difundiu teorias conspiratórias delirantes de que a Pepsi usaria células de fetos humanos em seus refrigerantes, que o príncipe Charles seria secretamente um muçulmano, que o filósofo Theodor Adorno teria composto as músicas do Beatles.
Por outro lado, Carvalho também apostou por anos na divulgação de pensadores pouco conhecidos no Brasil, como René Girard, René Guenon e Eric Voegelin.
Essa atuação como “divulgador de idéias” lhe valeu por um algum tempo uma abertura na imprensa. Carvalho chegou a ter colunas no Jornal do Brasil, na revista Época e O Globo. Ele também se tornou um frequentador assíduo de think tanks brasileiros que se promoviam como “liberais”, mas que sob a influência de Carvalho passaram a abraçar o reacionarismo.
Em 1996, publicou o seu primeiro livro que obteve alguma repercussão, O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras.
Na segunda metade dos anos 2000, após se mudar para os EUA e perder boa parte do seu espaço na imprensa tradicional, Carvalho entrou em uma nova fase, apostando em aulas online pelo YouTube.
Seu “Curso Online de Filosofia (COF)” se estendeu por mais de dez anos e ajudou a popularizar Carvalho ainda mais na internet e em círculos jovens de extrema direita. Com o tempo, o curso também começou a ganhar contornos de seita e culto de personalidade, o que fez com que alguns antigos seguidores de Carvalho se afastassem dele, mas ao mesmo tempo também formou uma nova classe de adeptos mais obedientes.
Nos anos 2010, Carvalho expandiu ainda mais sua influência graças ao livro e “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” (2013), publicado pela Editora Record. A obra vendeu 150 mil exemplares – um número expressivo para um livro do tipo no Brasil – e apresentou Carvalho para um público ainda maior. Nos anos seguintes, a Record passaria a republicar os livros antigos de Olavo, que antes eram limitados a pequenas editoras.
Em 2018, em primeiro discurso após a vitória no segundo turno, Jair Bolsonaro exibiu um exemplar de “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”.
Olavo, que exerceu por anos influência sobre os filhos do presidente, teve um papel decisivo na montagem do primeiro ministério do presidente. Ele influenciou diretamente a escolha de Ricardo Vélez Rodríguez para o cargo de ministro da Educação, e Ernesto Araújo para as Relações Exteriores. Vélez Rodríguez durou pouco no cargo, mas seu substituto foi outro olavista, Abraham Weintraub. Olavo ainda exerceu forte influência em Filipe G. Martins, o reacionário assessor de Bolsonaro para assuntos internacionais.
No entanto, Carvalho não emprestou um apoio constante ao presidente e várias vezes criticou Bolsonaro. O afastamento se acentuou conforme os pupilos do ideólogo foram perdendo cargos no governo. Carvalho também se queixava que o presidente não era disciplinado e consistente o suficiente para combater a esquerda e garantir uma hegemonia duradoura da extrema direita.
Em dezembro passado, Carvalho disse que votaria em Bolsonaro em 2022 por falta de opção..
Fonte: CdB