Há momentos em que nos deparamos com situações paralisantes. São paradoxos que se erguem diante de nós sem que por vezes entendamos muito bem como aconteceu. Ou às vezes até sabemos, mas fingimos não saber para nos sentir melhor. Essa encruzilhada paradoxal requer antes de saber qual caminho seguir, nos perguntar: como chegamos até aqui e por que estamos diante de tal situação?
Assim está a esquerda atualmente, numa encruzilhada. Perdida num debate inútil que ela mesma gerou e poderia resolver facilmente. Mas como dizia um dos maiores jogadores de futebol da história Johan Cruyff sobre o modelo de jogo que ele inventou, o futebol total, o difícil é fazer o simples. Cuyff seguia seu raciocínio e dizia que quando um jogador era ruim ele tentava fazer o mais difícil e por isso era ruim, para ele o bom jogador fazia o simples: tocava de primeira, tomava a bola e fazia os gols.
Se pensar nesse exemplo do futebol, talvez Cruyff esteja exagerando um pouco, até por ter sido um grandioso jogador, ele fazia tudo ser fácil e simples. Mas às vezes na vida há situações que são realmente simples, mas que o simples não anula a dificuldade. O debate classe e identidade é simples de ser resolvido, mas as esquerdas insistem em inventar soluções, ao invés de encarar o óbvio: a classe tem identidade, ou, como disse Mauro Iasi em uma palestra, você já viu uma classe andando por aí ou falando com alguém?
Enfim. Recentemente o IELA (Instituto de Estudos Latino Americano), presidido pelo Professor Nildo Ouriques, em seu canal do youtube lançou, no quadro ‘Pensamento Crítico’, um debate chamado de ‘Luta de classes e movimentos identitários’, com o próprio Nildo e a professora Angélica Volpato. O intuito do programa era jogar luz sobre tal problemática. O resultado, infelizmente, foi mais do mesmo: repetições de chavões de militantes juvenis que acabam de conhecer o marxismo, taxações vagas sobre autores complexos, contradições brutais, etc. Ou seja: o problema de jogar luz sobre algo é que dependendo do tamanho da lanterna, ao invés de enxergar melhor, cegamos… foi o que aconteceu, cegaram.
O vídeo só não é um desastre porque serve de parâmetro para como não fazer tal debate, que apesar de simples, é delicado devido a atual conjuntura. Dito isso, enumero aqui os seguintes problemas gerais nos quais ambos os professores recaem: I) uma leitura que não enfrenta o problema real além de rasa; II) desconhecimento de autores contemporâneos taxando tudo que não seja o marxismo ortodoxo de pós-moderno; III) resquício positivista de causa e consequência que vai em descompasso com a tradição dialética. Então, vamos por partes.
I
Quem é a classe trabalhadora? Essa questão é importante demais. Parece fácil responder, mas não é e é ao mesmo tempo. Do ponto de vista sociológico marxiano, a classe trabalhadora (fazendo uma redução grossa da categoria classe em Marx) é aquele grupo de pessoas que não possuem os meios de produção. Por esse ponto de vista é simples localiza-los na sociedade, porém Marx e sua dialética são traiçoeiros e requer muita atenção.
Marx não era ingênuo achando que ao localizar as classes na estrutura econômica da sociedade todas as questões em relação à classe estariam portanto respondidas, pelo contrário, a partir daí a coisa se complexifica muito. E é nesse ponto que Nildo e Angélica se enrolam. Há uma dimensão política e de reconhecimento dentro da estrutura da classe, que corta a classe, pois a classe não é um ser em si mesmo abstrato, mas uma categoria real composta por sujeitos reais – e como diz Marx, ser radical é apreender as coisas pela raiz, talvez tenha faltado radicalidade aos debatedores.
A realidade, tão importante para Marx, é que a classe trabalhadora brasileira é majoritariamente negra, feminina, cada vez mais LGBTQI. A tia do mercadinho da periferia que fica no caixa despachando, o carinha que entrega o gás, o pessoal do telemarketing, os e as excluídas que precisam recorrer à prostituição, os indígenas e quilombolas, etc., etc., são os nossos expropriados. Eles são os despossuídos. Observe que a relação econômica é importante, mas não dá conta de tudo e Engels sempre fez questão de afirmar isso.
Quando eu (branco), mesmo morando num dos bairros mais violentos do Recife-PE, o Ibura, só sofri duas revistas da polícia em todos esses anos, enquanto meus outros/as companheiros/as de bairro sofrem essa quantidade diariamente, isso é identidade. Dizer que a negritude é identidade significa que ela possui função econômica, mas também de criação de um campo de reconhecimento específico. Observe: a população negra ser reconhecida, associada, geralmente ao crime, aos empregos de baixo status social, ao malandro, a sexualização dos corpos, etc., recaem sobre esses indivíduos como uma autoimagem negativa de si mesmo e para os demais sujeitos da sociedade. Axel Honneth mostra como esses déficits de reconhecimento podem gerar problemas na autoestima, no autorrespeito e na autoconfiança. Um exemplo disso esta no vídeo do canal do youtube do psicanalista Christian Dunker, em que ele comenta sobre o racismo na psicanálise. Uma analisanda sua, negra e bem sucedida profissionalmente, estava às vésperas de uma promoção que iria lhe levar a um cargo de muito prestígio social e financeiro em sua carreira, porém ela começou a sofrer bastante após tal notícia. Um sofrimento que aparecia como inexplicável para ela. Com o passar da terapia ela identificou que o fato dela ser negra a impedia de ver a si mesma como uma profissional de topo e bem sucedida. Terminou bem, e ela foi promovida. Isso não muda o mundo, mas mostra como o capital opera até mesmo subjetivamente para impedir a ascensão de determinados grupos no intuito de manter uma força de trabalho superexplorada.
Observe que esse reconhecimento do/a negro/a enquanto sujeito menor socialmente termina por criar uma autoimagem que os/as colocam enquanto menores do que os demais membros da sociedade. Obviamente que isso é usado economicamente, há empregos específicos para essas populações, com salários menores, etc. – é o chamado racismo estrutural. Advinha quem atentou para tal uso econômico das identidades? Michel Foucault, que segundo os debatedores é o destruidor do marxismo, mostrando desconhecimento profundo sobre o francês, bastaria ler algumas páginas de Microfísica do Poder para essa fala ir por água abaixo.
Entendamos que Honneth alerta que o reconhecimento é um impulso moral dos conflitos sociais, ele não exclui os aspectos econômicos, basta recorrer ao debate entre ele e Nancy Fraser (Redistribuição ou Reconhecimento). Essa questão, até mesmo entre marxistas é colocada, e a II Guerra Mundial foi importante para isso. A ascensão nazifascista ocorreu num momento de precariedade material profunda entre o proletariado europeu, mesmo assim isso não foi o suficiente para os despertarem para a emancipação. Logo diversos marxistas como Reich se questionaram: o que leva as pessoas a se apegarem a sua sujeição? A resposta é que além das questões econômicas há algo além que nos amarra a determinada forma de vida. Pois a questão não é saber por que as massas invadem as ruas e quebram tudo, mas por que elas não fazem isso?
É interessante que os debatedores usam o exemplo do movimento negro americano. Contraditório. Talvez um dos melhores exemplos de como identidade e classe são vinculados tenham sido justo os Panteras Negras. Eles eram marxistas, influenciados pelo maoísmo e ainda sim a questão racial não era hierarquicamente menor que a classe, mas ambas as pautas estavam intrincadas, pois assim era no mundo real – basta lembrar que os Panteras Negras, apesar de aceitar o apoio público de brancos, não os aceitavam em suas fileiras. O movimento black power, que os panteras também fizeram parte teve importância para a conquista de um autorreconhecimento que socialmente eles não possuíam. Basta ver como Nina Simone, ao tocar em tais questões, fora do âmbito de classe, como a estética negra, foi barrada da industrial cultural da época. Essa confusão feita pelos debatedores seria mais bem resolvida se houvesse uma melhor compreensão da importância de manter as estruturas racistas, machistas, homofóbicas, etc., e associar a concepção de exército de reserva que tudo fica mais simples de entender. Mutatis mutandis, Foucault fez isso, mesmo divergindo em muitos pontos de Marx (não é à toa que ele chama Vigiar e Punir de seu livro mais marxista), mas os debatedores preferem atacar um espantalho do autor francês ao enfrentar um debate profundo.
II
Se não bastasse essa pouca precisão no que compreendem por classe – ou melhor, o economicismo que destoa do que Marx compreende por totalidade –, os debatedores se mostraram por fora do debate contemporâneo sobre identidade.
Nildo cita Frantz Fanon como exemplo do que seria um pensamento descolonizado e que entendeu a hierarquia que a classe possui sobre a identidade. Descolonizado sim, mas imagino que ou Nildo não leu ou, se leu, leu de forma precária o livro ‘Peles negras, máscaras brancas’. O livro fala como o racismo deforma a autoimagem que os/as negros/as possuem de si mesmos. De certa forma ainda vemos isso nos dias de hoje, apesar de que bem menos devido ao próprio avanço do movimento negro nas pautas de reconhecimento. Maquiagens para clarear a pele, pranchas alisadoras e tratamentos violentos para alisar os cabelos e cirurgias plásticas para afinar o nariz, etc. – esses dois últimos procedimentos que podem ter graves consequências para a saúde. Isso é, por outras formas e numa outra realidade, o que Fanon descreve em seu mais famoso livro,não havendo hierarquia entre classe e identidade, mas como há uma relação de dependência mútua entre exploração e opressão sem que haja superioridade de uma sobre a outra.
Não é um capricho bibliográfico o fato de Axel Honneth, teórico que defende certa noção de identidade atualmente e que afirma a importância de políticas de reconhecimento, usar muitas vezes os exemplos do movimento negro americano (inclusive os Panteras Negras e o movimento Black Power) e obras de Fanon em seu livro basilar sobre o assunto da identidade, ‘Luta por reconhecimento’.
Mas um dos principais argumentos se trata de que o movimento identitário (péssimo nome inclusive, pois impreciso) é uma importação sem noção feita por uma esquerda resignada aos mandos do capital que desconsidera a relação centro-periferia que permeia o capitalismo dependente brasileiro, mas com postura juvenil herdeira do Maio de 68 parisiense. Bem, quem são os intelectuais do Maio de 68? Foucault, Deleuze, Derrida, Sartre, Althusser, etc. Vejamos, primeiro que há gritantes diferenças entre esses autores. Segundo que se levarmos em conta a prática política desses autores, muitos estavam nas barricadas, nas greves, nos piquetes, etc. Foucault inclusive impediu a polícia de prender estudantes maoístas quando reitor, mesmo sendo os maoístas críticos das ideias foucaultianas. Pergunto, fora do youtube e de polêmicas vazias oriunda de um ego inflamado, onde anda os profundos conhecedores e críticos do pensamento francês?
Mas esqueçamos as alfinetadas, elas só servem para animar o debate. O fato é que o campo teórico francês das décadas de 50, 60 e 70 não defendiam pautas identitárias como pensam os debatedores. Pelo contrário, o estruturalismo e o pós-estruturalismo atacaram como a sociedade de bem-estar social era costurada por regimes de identidades rígidos ao ponto de impedirem uma vivência pessoal mais saudável – não se tratava de uma defesa da identidade, mas de um enfraquecimento das indentidades. Freud é um exemplo disso, mesmo que os franceses sejam críticos da psicanálise. A sociedade do bem-estar era disciplinar, e n’O capital (livro 1) Marx já mostrava isso. Era justo por congelar as identidades que as questões “das minorias” surgiram: a mulher da classe média e rica era a dona de casa, a mulher trabalhadora ganha menos que o homem porque é mais fraca e apenas complementa a renda, o homem é o provedor/chefe da família, o negro e os asiáticos são os colonizados incivilizados, as mulheres devem ser recatadas, os homens machos, etc, etc. Isso são identidades que se modulam de acordo com a cultura de cada local. O que os teóricos franceses afirmaram é justo um duro ataque a concepção de identidade, ao afirmar que esses estereótipos identitários são socialmente construídos e portanto podem e devem ser transgredidos e ressignificados. Para esse autores as questões econômicas não estavam a parte das produções de identidades, mas estavam entranhadas nelas, pois essas identidades possuíam uma utilidade produtiva na acumulação de capital.
Por mais que a esquerda revolucionária tenha sido pioneira no debate das identidades com o feminismo, por exemplo, com o passar do século XX muitos PC’s (Partidos Comunistas) terminaram deixando à margem as questões das identidades para defender justo o que nossos debatedores defendem: uma hierarquia da classe ante a identidade. Não é por um acaso que o Maio de 68 também é uma revolta contra a burocracia do PC francês.
Podemos discordar com as estratégias políticas dos franceses? O maio de 68 francês foi um movimento derrotado do ponto de vista revolucionário? Sim para as duas. Mas isso requer, como o próprio Marx afirmou, profundidade na realidade.
Judith Butler, por exemplo, critica fortemente o conceito de identidade. Ela possui um texto polêmico sobre o parentesco heterossexual em nossa sociedade e entra no debate do casamento homoafetivo. E ela fala algo muito interessante: que, apesar de extremamente importante à luta por direitos formais da população LGBTQI a respeito do casamento igualitário, numa perspectiva de uma emancipação social dos modelos heteronormativos de parentesco, essa conquista não significa muita coisa. Isso nos leva ao terceiro ponto.
III
Vamos ter a ciência que não se trata de afirmar que não é possível fazer uma crítica marxiana a autores como Foucault, Butler, Deleuze e Honneth. Muito pelo contrário, tal crítica é possível, necessária e fundamental para aprofundar esse debate tão importante. Mas é preciso compreender bem Marx, depois compreender bem tais autores e só depois desse longo percurso criticá-los. Jogar chavões para agradar militantes juvenis radicaloides não é saudável e só prejudica a esquerda, pois desqualifica o debate.
O ponto central do que os debatedores apelidaram de vitória da pós-modernidade – nada mais genérico que esse termo –, foi o que eles chamaram por disputa de narrativas no lugar da luta de classes. Onde em algum trecho Marx afirma que uma coisa exclui a outra? Na Ideologia Alemã, Marx e Engels afirmam que a ideologia dominante de uma sociedade é a ideologia da classe dominante, mas se continuarem a leitura (e isso é importante), verão que essa hegemonia da ideologia burguesa não é automática, não ocorre sem uma disputa, e essa disputa ocorre no campo ideológico – que os autores contemporâneos chamam de narrativas que organizam linguisticamente a existência de acordo com o campo de reconhecimento disponível intersubjetivamente. Se de fato a ideologia da classe dominante se sobrepusesse de pronto na sociedade, Gramsci seria desnecessário aos marxistas em muitos pontos. E é esse entrelaçamento que explica porque não necessariamente um discurso antirracista seja anticapitalista, assim como um discurso anticapitalista pode ser racista, homofóbico, machista – vide os “esquerdomachos” ou algumas análises de conjuntura de Zizek, que mesmo quando critica o capitalismo, mantém o eurocentrismo e certa xenofobia.
Vale lembrar também que a concepção de ideologia usada por Marx na Ideologia Alemã foi revisada ao longo de sua obra, havendo uma boa síntese dessa revisão na famosa introdução de 1859. O velho Mouro compreendeu a ideologia como campo de subjetivação, como campo de construção dos sujeitos. Nesse sentido Marx elimina resquícios positivistas de sua obra e adere ainda mais a lógica hegueliana, ainda que invertida. Se Marx entendia a ideologia como um ocultamento, posteriormente ele compreende como uma gramática social – quando Slavoj Zizek diz que todos estamos comendo na lata do lixo da ideologia, é a essa revisão marxiana que ele se refere, todos estamos dentro da ideologia. Estar num partido comunista, num sindicato revolucionário ou na guerrilha revolucionária não nos coloca além da ideologia, pois somos seres do nosso tempo e de nossa época. O próprio Marx era um exemplo típico de homem burguês europeu de sua época, nem por isso foi menos importante ou menos revolucionário. Todos nós só seremos revolucionários em nosso tempo enão há maxômetro que negue isso.
Infelizmente o que os debatedores utilizam é um marxismo tacanho, economicista, positivista e que não condiz com a obra marxiana que vai além desses reducionismos – um marxismo vulgar. Qualquer marxista coerente deveria saber que o conceito de totalidade não hierarquiza complexos sociais seja eles qual forem. Mesmo que haja complexos, como a classe, que determina de forma a modelar as opressões; as opressões, por sua vez, também determinam dialeticamente as estruturas de classe. Qualquer um que entre numa periferia sabe disso. Mas não me surpreende que a esquerda revolucionária de gabinete não saiba disso. Um homem branco na periferia e um homem negro na periferia, apesar de ambos proletários e explorados, possuem vivências diferentes e cada modo de viver sua singularidade tem reverberação econômica para a acumulação de capital, basta perceber as diferenças salariais, população carcerária e número de mortos, entre brancos e negros – só para ficar em um exemplo.
Os debatedores colocam a Bolívia como o exemplo da união proletária que colocou as identidades no seu devido lugar ante a hierarquia da classe. Na realidade uma das primeiras medidas de Evo Moralles foi a mudança do nome do Estado boliviano para Estado Plurinacional, onde na própria constituição há o reconhecimento e a obrigação legal do respeito as diferentes formas de vida que vivem no interior da Bolívia. Por outro lado, a revolução moçambicana teve como grande problema quando o Estado revolucionário buscou a criação de um “novo homem moçambicano” que deixasse as diferenças identitárias de lado, isso gerou fortes atritos. É quando deixamos em aberto à luta por reconhecimento das identidades dentro da luta de classes que se torna possível unir os proletários. A Revolução Russa com a questão feminista foi exemplar nisso: não é porque há uma luta por derrubada da burguesia em curso, que se elimine ou se coloque em menor patamar a questão da mulher, é preciso fazer com que as duas coisas andem juntas, até para as proletárias tenham se sentidas vinculadas à luta política de classes.
…
Enfim, haveria diversos outros pontos que gostaria de ter abordado nesse texto que já ficou muito maior do que eu pensei quando comecei a escrevê-lo. Mesmo assim sinto que precisei ser esquemático, reducionista e muito seletivo nos pontos que me chamaram a atenção do vídeo do IELA. Optei por não escrever em formato acadêmico já que quis dar um caráter de conversa, onde eu pudesse escrever da forma com que falaria se estivesse debatendo pessoalmente ou na mesa do bar com meus amigos – que é o local de debate por excelência.
Queria poder abordar sobre a questão da concepção de liberdade e de sujeito na tradição liberal, marxista e da teoria crítica, que é citada. Também gostaria de ter adentrado nos comentários sobre a psicanálise, ao se referirem ao problema da esquerda que usa conceitos como pulsão e desejo – como se o uso desses conceitos per se fosse um desvio no caráter revolucionário, que ignora toda uma longa tradição de intercâmbio e colaboração entre o marxismo e a psicanálise, vide a Escola de Frankfurt, Reich, Althusser, Angela Davis, Zizek, etc.
Creio que já é passada a hora da esquerda por a mão na cabeça e pensar: por que esses movimentos identitários da esquerda liberal possuem tanta força atualmente? Será que a própria esquerda revolucionária não possui sua parcela de responsabilidade? Tais questionamentos são fundamentais para superar um debate que é paralisante do ponto de vista da vinculação política dos povos, pois só há classe dentro de um determinado horizonte identitário, mas pode haver um mundo onde sejamos livres de fato, sem exploração de classes – e que ser negro, LGBTQI, mulher, etc., etc., será apenas um detalhe nas diversas singularidades que habitarão um mundo sem classes.
Por Heribaldo Maia – Lavra Palavra