A entrevista de Lula aos jornalistas Juca Kfouri e José Trajano, na TVT, reforça a tese segundo a qual o medo que as forças reacionárias têm do ex-presidente, livre e falante pelo Brasil afora, é a grande arma que as forças de esquerda dispõem. A cada entrevista e a cada reação estapafúrdia gerada junto à trupe do governo e dos inimigos do petista fica muito clara a força política deste que é, sem dúvida, o maior líder político de esquerda que o Brasil já teve.
Nas respostas dadas aos seus entrevistadores temos um Lula cada vez mais afiado, cônscio do papel único que exerce na política do País. Distante anos-luz da mediocridade tacanha que é a cara do governo atual, Lula consegue deixar à mostra o abismo gritante entre o que ele diz e o que os bolsonaristas conseguem entender, tentam em vão contestar e se esborracham ao comentar. Fiquemos em dois personagens singulares dessa (má) gestão que chega aos seis meses querendo se acabar. O próprio Bolsonaro e o general Augusto Heleno saíram pra dança sem saber dançar.
Baixo e rasteiro como é do seu estilo, o presidente Messias fez o que sabe: apelou para a ignorância por se ver inteiramente sem condições de responder ao que disse Lula. O ex-presidente fez o óbvio: pôs em dúvida a “facada” (e ponha aspas nisso), o episódio que virou de cabeça pra baixo uma eleição eivada de fakenews, chantagens e ameaças. A eleição que o atualmente ganhou com a ajuda decisiva do seu atual ministro da Justiça, na época um juiz que fazia as vezes de seu cabo eleitoral, fato provado hoje, com as revelações do site The Intercept Brasil.
Lula, como milhões de brasileiros, duvidou do episódio de Juiz de Fora e disse isso com todas as letras. “Eu, sinceramente…aquela facada tem uma coisa muito estranha, uma facada que não aparece sangue, que o cara é protegido pelos seguranças do Bolsonaro”, disse Lula, para quem a sua ausência no processo eleitoral foi o ponto de desequilíbrio que deu a vitória ao atual presidente, “essa coisa chamada Bolsonaro”.
A resposta de Bolsonaro, veio espumosa e grotesca como esperado. Ele sugeriu que, se a facada fosse em Lula, “sairia cachaça em vez de sangue”. E jogou pra fora o autoritarismo e a truculência que são as suas marcas conhecidas, hoje, no mundo inteiro: “Que eu saiba, presidiário presta depoimento e não dá entrevista”. Uma frase raivosa e inconformada por não poder, ele mesmo, proibir que a entrevista fosse realizada.
A outra reação destemperada veio de uma figura do sistema militar que começa a desmoronar depois de ter sido acionado para dar fachada ao governo comandado por um oficial que o Exército não quis. O general Heleno, em alguns momentos até sereno e comedido, arreganhou os dentes e desejou algo que, além de imoral, é inconstitucional: prisão perpétua para o ex-presidente. Um destempero que revela inaptidão para com o cargo e para com a própria democracia.
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“Um presidente desonesto tinha que tomar uma prisão perpétua”, sentenciou o estrelado chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República. Em seguida, apelou de vez: “Isso é uma canalhice típica desse sujeito. Não mereceu jamais ser presidente da República. Eu tenho vergonha de um sujeito desses ter sido presidente da República”.
O termo “eu tenho vergonha” talvez tenha sido um ato falho pelo sentimento que hoje toma conta do país, sobretudo pela exposição da imagem do Brasil lá fora.
A reação do general Heleno tem sentido. No fundo, não é vergonha. É medo mesmo.
Do Jornalistas pela Democracia