O discurso de Lopez Obrador no dia 1 de Dezembro marca uma ruptura com o neoliberalismo que devastou o México nas últimas décadas. Pronunciado na Praça do Zocalo, na presença de dezenas de milhares de pessoas e durante mais de duas horas, o novo presidente mexicano reafirmou as suas ideias quanto à regeneração do México, ao combate à corrupção e à governação junto com o povo e não contra ele.
Das 100 medidas que preconizou, algumas são simbólicas (venda do avião presidencial, entrega do palácio à comunidade; …), outras sociais (duplicação do salário-mínimo; redução dos altos salários e aumento dos baixos na função pública; publicação na Internet das folhas de pagamento com as remunerações de todos os funcionários do Estado, inclusive o presidente; …) e outras ainda que podem ser caracterizadas como nacional-desenvolvimentistas (ferrovia Maia no sul do México a ligar o Pacífico ao Atlântico; aumento da produção de petróleo sem recorrer ao capital estrangeiro; incentivos fiscais para criar um “filtro” junto à fronteira com os EUA, numa faixa de 5 km, a fim de instalar ali indústrias que absorvam mão-de-obra e dissuadam os paisanos a transpô-la para o lado estado-unidense; proibição de sementes transgênicas; …).
O tom do seu discurso foi sincero e até emotivo, mas não falou em nacionalizações nem mencionou o socialismo. A sua tarefa será ciclópica num país devastado por 30 anos de neoliberalismo e corroído pelo narcotráfico. Se Lopez Obrador conseguir cumprir a metade das suas 100 medidas fará uma obra notabilíssima.
Do Resistir