Laranjal bolsonarista de MG: gráficas não rodaram nada, conclui Polícia Federal

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Jair Bolsonaro e Marcelo Álvaro Antônio, ambos do PSL (foto: reprodução /Catraca Livre)

O delegado da Polícia Federal de Minas Gerais, Marinho Rezende, responsável pelas investigações do laranjal do PSL no Estado, informou que não encontrou nenhum sinal de que as gráficas investigadas tenham de fato trabalhado para candidatas laranjas do PSL ligadas ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

A PF fez buscas e apreensões em cinco gráficas no início da semana e não encontrou registros físicos que confirmassem que elas efetivamente prestaram os serviços informados à Justiça Eleitoral. Uma gráfica deu como desculpa que tem como praxe guardar registros físicos por seis meses, mas que eles já tinham sido eliminados.

Outra, que emitiu nota fiscal para duas das candidatas laranja, afirmou que anotava tudo num bloquinho que, no entanto, ele “já tinha ido para o lixo”. Uma outra declarou ao TSE ter prestado serviço a algumas dessas integrantes do PSL, também disse que os pedidos nem sempre eram armazenados e que “devem ter sido apagados”.

Uma quarta gráfica disse que não possui registros e que as solicitações eram feitas, na maioria das vezes, por telefone ou pessoalmente. Um quinto local investigado também não tinha nenhum documento físico para comprovar o trabalho, mas foi o único a informar que teria registro em seu sistema.

Os agentes cumpriram cinco mandados de busca e apreensão em gráficas da capital e de três cidades mineiras, e também outros dois mandados na sede do PSL em Belo Horizonte e na casa de um sócio de uma gráfica, que é irmão de um ex-assessor do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Segundo a Polícia Federal, a gráfica que não funcionava há dois anos teria prestado serviços para o partido no Estado.

Quatro mulheres investigadas sob a suspeita de terem simulado concorrer a cargos de deputada estadual e federal declararam ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ter produzido material e outros serviços de campanha nas empresas, que emitiram notas fiscais.

O resultado da operação reforça a forte suspeita da polícia de que ou as gráficas não produziram nada do que foi declarado pelas candidatas, ou fizeram o material para outras pessoas. Uma deputada federal eleita, Alê Silva (PSL-MG), que denunciou o esquema de desvio de verbas pela direção do partido em MG, informou que está sendo ameaçada de morte.

Zuleide Oliveira, ex-candidata a deputada estadual pelo PSL-MG, contou como as coisas aconteciam. “Ele [Marcelo Álvaro Antônio] disse assim: eu faço um repasse de R$ 60 mil para você e você nos devolve R$ 45 mil. R$ 15 mil é para você fazer a sua campanha”.

Zuleide entregou 25 mil santinhos de propaganda, em dobradinha com o atual ministro, que foi eleito deputado federal no pleito, além de adesivos veiculares de apoio ao então candidato do PSL à presidência da República, Jair Bolsonaro.

“Ele [Marcelo Álvaro] fez a proposta: olha, a gente pode depositar R$ 100 mil na sua conta do fundo partidário, você ficaria com 10% deste valor”, acrescentou Adriana Moreira Borges, ex-candidata a deputada federal (PSL-MG).

A Polícia Federal ouviu outras candidatas que não relataram a proposta. Mas, o que chamou a atenção dos investigadores foi a quantia gasta por elas. O valor médio, por voto, de um candidato a deputado federal eleito, é de R$ 10; de um não eleito é de R$ 1, e as mulheres investigadas, em Minas, gastaram, entre R$ 80 e R$ 332, por voto. E não foram eleitas.

“A gente se deparou com um fato novo nessas eleições que foi a vinculação tanto da cota da quantidade de candidatas, quanto no valor a ser despendido por elas a partir dos recursos do fundo partidário. Então a gente vê que existia uma conduta que era de ludibriar essa cota. Ou seja, converter esses valores que seriam inicialmente destinados à mulheres para outros candidatos ou em benefícios de terceiros”, explicou Marinho Rezende, delegado da Polícia Federal.

Esquema semelhante foi montado no PSL de Pernambuco, comandado pelo deputado Luciano Bivar. O PSL – partido de Jair Bolsonaro, – repassou R$ 400 mil a uma candidata de Pernambuco que obteve apenas 274 votos na disputa por uma cadeira na Câmara dos Deputados nas eleições de 2018.

A candidata, Maria de Lourdes Paixão, recebeu poucos votos apesar de ter recebido a terceira maior fatia nacional da verba da legenda, que é dinheiro público. À frente dela só Luciano Bivar, atual presidente nacional do partido, que recebeu R$ 1,8 milhão, e em segundo o Delegado Waldir que se reelegeu recebendo R$ 420 mil.

A prestação de contas da candidata sustenta que 95% dos R$ 400 mil foram usados para a impressão de 9 milhões de santinhos e 1,7 milhão de adesivos, às vésperas do pleito, em 7 de outubro.

Do HP

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