Depois de Janaina Paschoal e Michel Temer admitir que houve golpe, agora é a vez de outro personagem que aproveitou do impeachment de Dilma Rousseff para se tornar chanceler, admitir que houve manipulação política.
Ex-ministro das Relações Exteriores do governo Michel Temer, o ex-senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) agora afirma que houve manipulação política dos procuradores da Lava Jato e do então juiz Sergio Moro para derrubar a então presidenta Dilma Rousseff no golpe do impeachment, em 2016. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada nesta sexta-feira (27), ele diz que as revelações da Vaza Jato mostram que Moro e os procuradores adotaram “procedimentos de absoluta ilegitimidade”.
Alvo de delação do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro, que o acusa de ter pedido propina para campanhas do PSDB em São Paulo em troca da liberação de recursos para obras no estado, Aloysio diz que os membros da Lava Jato atuavam “imbuídos de um projeto político, que vai além do processo judicial”.
Ele condenou a “divulgação parcial” dos diálogos entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Conforme revelado pela própria Folha, em parceria com o The Intercept Brasil, Moro ocultou as conversas de Lula que enfraqueciam a tese de que a sua nomeação como ministro da Casa Civil serviria para livrá-lo das investigações da Lava Jato. “Eles manipularam o impeachment, venderam peixe podre para o Supremo Tribunal Federal. Isso é muito grave.” Além da nomeação de Lula barrada pelo Supremo, a divulgação ilegal da conversa serviu para turbinar as manifestações pela derrubada de Dilma.
Hoje, Aloysio diz que apoiou o impeachment, mas não com o “mesmo entusiasmo” da bancada do PSDB da Câmara. Contudo, no dia seguinte à votação pelos deputados da admissibilidade do processo contra Dilma, o então senador, que presidia a Comissão de Relações Internacionais da Casa, viajava a Washington, capital dos Estados Unidos, numa “contraofensiva diplomática” para combater as denúncias de que impeachment, na verdade, se tratava de um golpe.
A deputada Margarida Salomão (PT-MG) classificou a declaração do ex-senador como uma “barrichellada”, em referência ao seu arrependimento tardio. “Aloysio foi um contumaz apoiador do golpe; foi ministro graças a isso. Agora, acuado por acusações, diz que o impeachment foi manipulado e recorre ao mesmo argumento da defesa de Lula para se defender”, postou no Twitter. Já o deputado Ivan Valente (Psol-SP) relacionou o impeachment com o governo Bolsonaro: “O golpe de 2016 resultou do encontro entre o reacionarismo e a politização de órgãos do sistema de Justiça. O colapso democrático pariu Bolsonaro. Cabe por um fim nisso!”
Fonte: RBA