Comandante respeitado no meio militar, o general Santos Cruz deixa o governo após denúncias contra Sérgio Moro.
General de Divisão e respeitado no meio militar por seu pensamento estratégico, o agora ex-ministro da Secretaria de Governo Carlos Alberto dos Santos Cruz foi substituído no cargo, nesta quinta-feira, por outro militar, o general de Exército Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. O movimento, no principal núcleo de poder do governo, ocorre apenas alguns dias após as reportagens publicadas na agência norte-americana de notícias Intercept Brasil, que expõem o ministro da Justiça, Sérgio Moro.
A saída do cargo de um dos comandantes mais emblemáticos do país, que liderou as tropas brasileiras no Haiti a serviço das Nações Unidas (ONU), substituído por outro oficial da ativa, no Comando Militar do Sudeste, revela um “abalo na confiança do meio militar no governo Bolsonaro”.
— A saída de Santos Cruz não foi tão civilizada assim, conforme divulga a versão oficial. Não resta dúvida quanto à fenda aberta na disputa entre grupos rivais, que se digladiam no governo antes mesmo da posse de Bolsonaro. Internamente, haverá repercussões, mas não creio que chegarão, de pronto, à opinião pública — afirmou.
Moro e Dallagnol
Soldado experiente, Santos Cruz cumpriu o voto de silêncio acordado com o superior hierárquico, após o embate com o guru da família Bolsonaro, o astrólogo Olavo de Carvalho, que tem o apoio irrestrito dos filhos do presidente. Mas fatos novos e desgastantes divulgados nas últimas horas, que colocam em xeque a integridade ética de um dos principais ministros da Esplanada, dissolveram os últimos elos de confiança entre o general graduado e o comandante em chefe das Forças Armadas.
Aos 67 anos, o militar gaúcho cumpriu 51 anos à frente do Exército, desde a Academia Militar das Agulhas Negras ao generalato; e construiu uma carreira sólida na caserna por sua rigidez moral. Apenas alguns dias após os vazamentos que atingiram, em cheio, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, o general Santos Cruz se calou diante das acusações ao colega de ministério.
Santos Cruz foi o único militar a não manifestar apoio incondicional ao juiz citado na suspeita de conluio com o procurador federal Deltan Dallagnol, para subverter as eleições presidenciais de 2018.
Catador
Alinhado ao substrato ideológico de Bolsonaro, o substituto de Santos Cruz é o mesmo militar que, há dois meses, considerou “um acidente” o assassinato de Evaldo Rosa dos Santos e o catador Luciano Macedo, um músico e um catador de papel, no Rio. Os tiros foram disparados por militares do Exército. O músico passeava de carro com a família quando seu automóvel recebeu mais de 80 tiros.
O desgaste entre o comandante e o ex-capitão, no entanto, agrava-se desde a posse no Palácio do Planalto, em um confronto direto com os filhos do presidente e o astrólogo que mora nos EUA. Após as primeiras rusgas com Olavo de Carvalho, que prefere ser chamado de filósofo, o general viu sua carreira colocada em dúvida e reagiu.
A equipe de bombeiros, liderada por Augusto Heleno, colega de farda e atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional, que tem o serviço de Informação sob seu guarda-chuva, conseguiu extinguir o incêndio, mas as chamas voltaram a subir após o risco imediato de um processo severo contra Moro, que tem no presidente seu principal fiador.
Preocupação
O general Santos Cruz, porém, integra um grupo de elite no comando das Forças Armadas, do qual o general Eduardo Villas Bôas — ex-comandante do Exército, hoje assessor do GSI — é um dos pilares.
Para estes líderes da tropa, incluído aí o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, nomes como o de Olavo de Carvalho e seus indicados, a exemplo dos ministros das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e da Educação, Abraham Weintraub, são motivo de preocupação para as instituições brasileiras.
Ainda permanecem no governo; além do general Heleno, o engenheiro do Exército Tarcísio Gomes de Freitas, no Ministério da Infraestrutura, e o almirante Bento Albuquerque, na pasta das Minas e Energia.
Fonte: CdB