O medo, estampado no olhar da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, é a outra face do discurso violento de Bolsonaro. Nesta sexta-feira, ela pediu que ele permita sua retirada do governo, segundo declaração vazada a jornalistas.
A truculência, marca registrada do governo de Jair Bolsonaro (PSL) desde a campanha eleitoral, ao prometer “metralhar os petralhas” segurando um tripé ou fazer ‘arminha’ com os dedos polegar e indicador, vai muito além do discurso. Integrantes de sua equipe têm deixado transparecer, em entrevistas ou comentários a interlocutores e nas redes sociais, que Bolsonaro “é difícil de aturar”, disse um deles, em caráter sigiloso.
O medo, estampado no olhar da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, é a outra face do discurso violento de Bolsonaro. Nesta sexta-feira, ela pediu que ele permita sua retirada do governo, segundo declaração vazada a jornalistas da revista semanal de ultradireita Veja. Damares justifica sua decisão no pavor que tem de morrer; além de se sentir “cansada e com problemas de saúde”.
Alves fechou sua casa em Brasília e foi viver em um hotel, sem revelar o novo endereço. Numa tentativa de transparecer que é fiel ao patrão, Damares disse que deixará o ministério apenas quando tiver concluído a revisão dos principais programas da pasta. Ainda assim, Bolsonaro, ao ouvir as queixas, foi lacônico:
— Você vai sair, mas daqui a quatro anos — ameaçou.
Pressionado
Usado como peça de marketing na campanha presidencial, por ter mandado prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chefiar a Operação Lava Jato, o hoje ministro da Justiça, Sergio Moro, também parece perceber que seu papel chegou ao fim. O possível envolvimento de filhos do presidente com os grupos milicianos do Rio de Janeiro servem de pano de fundo a um eventual pedido de demissão do cargo.
“Sergio Moro não está nada satisfeito com as recorrentes sabotagens contra sua gestão e chegou a falar com assessores sobre uma possível demissão, caso seu pacote anticrime não seja aprovado”, diz o site de ultradireita O Antagonista, em matéria publicada nesta manhã.
Um dos pontos de desgaste entre Bolsonaro e Moro estaria a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de sua alçada. Coube a este conselho a denúncia de que o assessor do filho Flávio Bolsonaro, o militar reformado Fabrício Queiroz, movimentou mais de R$ 2 milhões enquanto trabalhava no gabinete do então deputado estadual, hoje senador do PSL.
O ex-juiz também compromete sua imagem de uma autoridade republicana ao servir a um governo de diretrizes fascistas. Bolsonaro prometeu aos ruralistas que matar sem-terra não significará um crime capital e, para agravar o quadro político, a Associação (norte-)Americana de Juristas reconheceu que Lula é um preso político.
Posto Ipiranga
Outro pilar no marketing político de Bolsonaro, o ministro Paulo Guedes também entrou para a lista dos ministros demissionários no momento em que percebeu o viés intervencionista do governo. Guedes chamou a decisão do governo de interromper o sistema de reajuste de preços da Petrobras de uma atitude “não muito razoável”.
No caso da reforma da Previdência, Guedes colocou sua condição para continuar no governo. Esta seria o apoio explícito de Bolsonaro ao projeto de reforma constitucional
— Se der acima de R$ 1 trilhão (de economia, com a aprovação da reforma), eu digo que estamos numa geração de pessoas responsáveis e têm a coragem de assumir o compromisso (…). Se botarem menos, eu vou dizer assim: ‘Eu vou sair daqui rápido, porque esse pessoal não é confiável. Não ajudam nem os filhos; então, o que será que vão fazer comigo? — questionou.
A indireta tinha endereço certo. Sem a reforma, o governo deixa de ser confiável e ele não permaneceria no cargo.
Do CdB