Reverenciado, mundialmente, por sua obra e realizações para a Educação, no país e no mundo, a mensagem do professor Paulo Freire constou no discurso de Lula; além de destacar duas lições que aprendeu com o amigo, falecido em 1997
Na abertura do Webnário Educação e as Sociedades Que Queremos, promovido pelas Nações Unidas (ONU), nesta quinta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sublinhou retrocessos promovidos por governos de direita no Brasil e no mundo. Em seu discurso, no entanto, Lula deixou uma mensagem positiva
—Depende de nós acender a luz nas trevas — afirmou o líder petista, convidado especial da ONU ao lado do ganhador do Prêmio Nobel da Paz Kailash Satyarthi. O ativista indiano atua contra o trabalho infantil e ajudou a libertar mais de 80 mil crianças de diversas formas de escravidão. Satyarthi recebeu o prêmio sueco junto com a paquistanesa Malala Yousafzai, em 2014.
Preconceitos
Reverenciado, mundialmente, por sua obra e realizações para a Educação, no país e no mundo, a mensagem do professor Paulo Freire constou no discurso de Lula; além de destacar duas lições que aprendeu com o amigo, falecido em 1997.
— A primeira é a noção de que aquele que educa também está sendo educado. É um conceito que só poderia ser formulado por quem tinha a grandeza de respeitar a sabedoria dos humildes e reconhecer a existência do outro, acima das barreiras sociais e preconceitos — disse.
Excluídos
A segunda lição, citada no discurso do líder petista, é a de que “a Educação é libertadora no mais amplo sentido que pode ter a palavra liberdade”.
— Na sociedade e na região em que nascemos, marcada pelo latifúndio, a herança da escravidão, a brutalidade dos ricos contra os pobres, a fome e a desigualdade, o simples ato de aprender a ler e escrever era uma rara conquista para alguém do povo — acrescentou.
Lula também ressaltou os avanços no setor da educação, ao longo dos 14 anos de governos petistas, ressaltando as políticas de inclusão e acesso à universidade para populações historicamente excluídas.
— Tive o privilégio de conversar com o Papa Francisco, que se dedica a esse tema com toda sua alma. Sabemos que não é tarefa apenas para os economistas e as pessoas de boa vontade. Tem de envolver a academia, os intelectuais, os artistas, partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais, igrejas, todos e todas. Mas não chegaremos a lugar algum se os governos do mundo, aqueles que têm o poder de Estado, não se engajarem objetivamente em uma profunda mudança nas relações entre as pessoas e o dinheiro — acrescentou o ex-presidente.
Futuro
Ainda no discurso, Lula criticou a relativização da miséria, um fato que, ao longo de séculos, tenta incutir em corações e mentes que “a fome e a miséria eram tão naturais quanto a chuva ou o nascer do sol”.
— Durante séculos nos disseram que os pobres, a maioria negra, os filhos dos trabalhadores estavam condenados a repetir a triste história de seus pais, avós, bisavós, tataravós. Mas pelo menos durante uma década, no Brasil, conseguimos provar que um país pode ser governado para todos – e com atenção especial para a maioria sempre excluída. A imensa desigualdade entre seres humanos é simplesmente intolerável, mas enquanto ela perdurar haverá também o sonho de mudança que nos move para o futuro — frisou.
Trata-se de outra lição oferecida pela pandemia, segundo o ex-presidente.
— Por mais profundas que sejam as crises, por mais escuro que faça, depende de nós acender a luz nas trevas. E creio que nunca foi tão necessário sonhar e seguir lutando para construir um mundo melhor do que este em que vivemos — afirmou.
Contexto
O encontro virtual integrou a iniciativa ‘Sociedades que queremos’, coordenada pela Organização do Mundo Islâmico para Educação, Ciência e Cultura (ICESCO), que tem o objetivo de disseminar conhecimento e implementar programas inovadores para construir sociedades saudáveis, pacíficas, prósperas, inclusivas e resilientes a partir de uma necessidade que se acelerou com o advento da pandemia causada pelo novo coronavírus.
A atividade contou também com a parceria da relatoria especial da ONU para o Direito à Educação (ACNUDH), a Campanha Nacional pelo Direito à Educação e o próprio Instituto Lula. Além do ex-presidente brasileiro e de Kailash Satyarthi, o webinário contou com a participação do diretor-geral da Icesco, Salim Al Malik, e de Alice Albright, que é diretora-executiva da Global Partership for Education, um fundo global atua em dezenas de países, principalmente nos países menos desenvovidos da África, apoiando projetos inovadores de educação.
O ex-ministro da Educação e conselheiro do Instituto Lula, o professor Fernando Haddad também participou do seminário. Ele foi convidado na mesa ‘Políticas e Mecanismos para garantir uma educação de qualidade, igualitária e inclusiva para todos’ que reunirá ministros de sete países.
Fonte: CdB