Cofundador da Uber compra mansão em Los Angeles por 72.5 milhões de dólares enquanto motoristas lutam por salários dignos. Dois grandes negócios imobiliários em Los Angeles trouxeram à tona a desigualdade de renda em uma região onde milhares de pessoas vivem nas ruas, enquanto mansões do tamanho de estádios de futebol são vendidas por mais de 100 milhões de dólares.
Na segunda-feira, a revista Variety noticiou que o cofundador da Uber Garrett Camp e sua companheira Eliza Nguyen compraram uma mansão em Beverly Hills por 72.5 milhões de dólares, o que se acredita ter sido a maior venda de uma casa no bairro em todos os tempos.
Contudo, esta venda não foi a maior de Los Angeles noticiada essa semana. Uma mansão de 56.500 metros quadrados em Holmby Hills, onde morou o produtor de televisão Aaron Spelling, foi vendida por 120 milhões de dólares, de acordo com o jornal Los Angeles Times, tendo sido o maior valor da história de uma casa no condado de Los Angeles .
As extraordinárias vendas dessas mega mansões coincidem com o momento em que Los Angeles está vivendo um aumento da desigualdade e da preocupação com a crise de moradia, além do dramático crescimento do número de pessoas em situação de rua, gerando intenso debate sobre quem tem se beneficiado do crescimento da economia.
O imóvel em Holmby Hills, conhecida como Manor, possui 4.7 acres e é considerada a maior residência para uma família em Los Angeles. Foi construída em 1991 para o produtor de televisão Aaron Spelling e agora possui 123 cômodos, de acordo com a reportagem do LA Times. É a quarta venda de 100 milhões de dólares na história de Los Angeles, segundo o jornal.
A venda da mansão de Beverly Hills, comprada pelo cofundador da Uber, Camp, foi finalizada poucas semanas depois da primeira oferta pública da Uber ter enriquecido seus poderosos investidores e fundadores. Camp, um empresário canadense que possui uma riqueza avaliada em 4.2 bilhões de dólares, já é dono de um portfólio de propriedades luxuosas em Los Angeles, San Francisco e Manhattan.
A compra de Camp enfureceu os motoristas que vêm denunciando e protestando contra as relações empregatícias da Uber, lutando por melhores condições de trabalho. “Esse é o exemplo perfeito do 1% roubando o resto de nós”, disse Nicole Moore, motorista do aplicativo em Los Angeles, sobre a mansão de Camp. “Os motoristas estão morando em seus carros. Nós estamos lutando por salários dignos. Pelo menos compartilhe essa riqueza com as pessoas que de fato constroem sua companhia”.
Moore, que também é associada ao Rideshare Drivers United (Trabalhadores de Aplicativos de Carona Unidos), disse ao The Guardian que ela trabalha meio período como motorista para além do turno integral na área da saúde, porque os custos de moradia são muito grandes em Los Angeles: “É uma abominação. A desigualdade de renda tem crescido rapidamente”.
“Esse cara está comprando casas exuberantes com nosso dinheiro, nosso dinheiro duramente conquistado que eles estão injustamente pegando da gente”, adicionou Karim Bayumi, outra motorista do Uber em Los Angeles e associada. “É exploração”.
A compra de Camp é particularmente surpreendente, dado que a Uber continua perdendo dinheiro e vem se opondo de forma bastante contundente aos esforços de seus motoristas de organizar e melhorar as condições de trabalho, disse Veena Dubal, uma professora associada de Direito na Universidade da Califórnia, Hastings, que também é uma expert em direitos trabalhistas na gig economy.
“É um tapa na cara de todo mundo”, disse ela, argumentando que a Uber foi criada com a ideia de quebrar as leis trabalhistas e violar as regulações existentes. “O sistema capitalista que nós temos tem recompensado indevidamente, com extraordinária riqueza, apenas o proprietário”.
Citando as lutas contínuas dos motoristas por compensações para os trabalhadores, como seguro desemprego, salário mínimo e outros direitos, Dubal diz que 72 milhões de dólares poderiam ajudar bastante: “Esse montante de dinheiro poderia mudar a vida das pessoas”. Ela também lembra que muitos motoristas de Uber dependem de benefícios públicos e assistência do governo, já que seus salários são tão baixos, o que significa que os contribuintes têm, indiretamente, contribuído para a riqueza exorbitante do cofundador da Uber, por exemplo. “É o nosso dinheiro que comprou aquela casa”.
As notícias da venda da mansão de 120 milhões de dólares em Holmby Hills vieram no mesmo dia em que o governo desmantelou um acampamento de pessoas em situação de rua no centro de Los Angeles, o epicentro da crise humanitária de moradores de rua. No último mês, as autoridades revelaram que Los Angeles enfrentou um aumento de 16% na população de rua ao longo do ano passado, com mais de 36 mil pessoas vivendo sem teto na cidade.
O Reverendo Andy Bales, CEO da Union Rescue Mission, uma organização de moradores de rua de Los Angeles, disse que 120 milhões de dólares poderiam ter ido usados para abrigar milhares de pessoas que vivem nas ruas de LA. “Todos só querem se livrar dessas pessoas”, disse Bales, dizendo que ele se encontrou com quatro famílias desesperadas por abrigo na segunda-feira, incluindo uma mulher grávida com três filhos pequenos. “Não adianta tentar se livrar dos moradores de rua, eles não têm pra onde ir. Não há abrigos, nenhum serviço para o qual poder direcionar as pessoas”.
Pete White, diretor executivo do Los Angeles Community Action Network, um grupo de luta por direito à moradia, disse que é doloroso ler os artigos glorificando a venda da mansão enorme: “Certamente há uma crise de valores morais em Los Angeles”.
O imóvel de Camp em Beverly Hills possui 12 mil metros quadrados, com sete quartos e uma nova casa de hóspedes. O Manor, em Holmby Hills, possui um enorme aquário, uma pista de dança no porão, uma sala de bronzeamento, um solar, um spa, uma quadra de tênis, um lago ornamental, roseiras etc…
Do PCB.org