Desde os primeiros dias do surto na China, os cientistas sabem que o coronavírus danifica não apenas as células pulmonares, mas também pode se infiltrar em certas células de outros tecidos corporais
Biólogos moleculares da Alemanha confirmaram que o novo coronavírus é capaz de penetrar nas células cardíacas humanas e descobriram que podem se reproduzir ali, causando interrupções na taxa de batimentos cardíacos, dizem os pesquisadores em seu estudo, publicado na biblioteca online bioRxiv.
“O SARS-CoV-2 pode infectar cardiomiócitos humanos em cultura, bem como em dois modelos diferentes de tecido cardíaco”, escrevem os pesquisadores. “A infecção viral foi associada a efeitos citotóxicos e inibição da batida de cardiomiócitos em nossas culturas e cardiosferas in vitro, sugerindo um potencial efeito prejudicial da infecção por SARS-CoV-2 no coração humano”.
Desde os primeiros dias do surto de coronavírus na China, os cientistas sabem que o coronavírus danifica não apenas as células pulmonares, mas também pode se infiltrar em certas células de outros tecidos corporais, incluindo membranas mucosas do nariz, esôfago, vasos sanguíneos e cardíacos e outros órgãos.
Os cientistas dizem que essa característica do vírus pode explicar por que muitos pacientes com COVID-19 sofrem não apenas de problemas respiratórios, mas também perdem o olfato, têm problemas de digestão e problemas com o sistema cardiovascular.
Novo perigo para o coração
Os biólogos e cardiologistas moleculares alemães, liderados por Stefania Dimmeler, diretora do Instituto de Regeneração Cardiovascular da Universidade Goethe de Frankfurt, revelaram uma possível razão por trás dos problemas cardiovasculares, observando a interação dos coronavírus e cardiomiócitos, células musculares cardíacas.
De acordo com Dimmelel, os cientistas há muito tempo se interessam se o coronavírus causa distúrbios cardíacos diretamente, infectando as células musculares cardíacas ou indiretamente, causando inflamação e outras perturbações no corpo, que afetam negativamente o trabalho dos cardiomiócitos.
Eles testaram ambas as hipóteses, tentando infectar células cardíacas individuais e amostras de tecido muscular cardíaco crescidas artificialmente com duas cepas diferentes do coronavírus SARS-CoV-2. Anteriormente, muitos biólogos duvidavam que o vírus pudesse procriar com eficiência, porque os cardiomiócitos não produzem a enzima TMPRSS2, que é extremamente importante para o SARS-CoV-2.
Os experimentos de Dimmeler e sua equipe mostraram que o vírus pode contornar esses problemas e usar outras biomoléculas das células musculares do coração, ainda desconhecidas pelos cientistas, para desempenhar as mesmas funções. Ambas as cepas se infiltraram com sucesso nas três culturas de células musculares cardíacas usadas no experimento, causando sua morte em massa.
Esses experimentos, dizem os cientistas, indicam que o vírus danifica diretamente o tecido cardíaco, o que deve ser levado em consideração durante o tratamento de portadores de COVID-19 e a pesquisa das consequências a longo prazo do coronavírus espalhadas pela população.
Fonte: Agência Tass