Nas gravações, o cônsul disse que médicos e enfermeiros evitavam se aproximar dele por medo de contrair o vírus. Ouça aqui
O administrador Jorge José González Séba, que era capitão reformado do Exército e cônsul honorário do Suriname no Rio de Janeiro, morto na quarta-feira (25) com sintomas do coronavírus, deixou áudios em que acusou o hospital Rio Mar de abandoná-lo por medo de contaminação.
As gravações foram feitas na UTI. Nelas, o cônsul disse que médicos e enfermeiros evitavam se aproximar dele por medo de contrair o vírus. “Me deixaram aqui sem informação, isolado, como se fosse um bicho. Eu me esgoelo, eu grito, eu chamo as pessoas, ninguém atende. Tenho dificuldade até para urinar”, desabafou.
Ele disse ainda que ficou mais de 48 horas abandonado no leito, sem limpeza e troca de fraldas. “Tive que implorar um dia inteiro para que alguém pudesse trazer um copo para eu beber água”, afirmou. “Nunca pensei que num hospital desse porte eu pudesse ser tratado desta maneira”.
“Reconheço que as pessoas devem estar em pânico, os profissionais de saúde. Agora, deixar um paciente isolado e defecado por mais de dois dias, sem atendimento mínimo de higiene, isso é intolerável”, protestou.
Seba tinha 60 anos, era diabético e foi internado no sábado com febre e falta de ar. No hospital, que pertence à Rede D’Or e fica na Barra da Tijuca, foi diagnosticado com pneumonia dupla e isolado por quatro dias na UTI.
O advogado da família, Fernando César Almeida, confirmou a autenticidade dos áudios e disse que a viúva pretende processar o hospital. Ele disse ainda que o primeiro teste feito no hospital deu resultado positivo para Covid-19.
“Abandonaram o González à própria sorte. Se o hospital não estava preparado para atender pacientes com coronavírus, ele deveria ter sido encaminhado para outra unidade. O que ocorreu foi abandono de incapaz e omissão de socorro”, afirmou.
Nota do Hospital
O Rio Mar afirmou em nota que o cônsul foi internado “com quadro de febre e pneumonia dupla, sintomas de suspeita de coronavírus Covid-19. Foram seguidos os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde, bem como prestado todo o atendimento possível, porém o paciente não resistiu e faleceu”, acrescentou.
Na nota, o hospital não se manifestou sobre as acusações de abandono e limitou-se a informar que “se solidariza com a dor dos familiares e se coloca à disposição deles para maiores esclarecimentos”.
O corpo de González foi cremado na quinta-feira, sem velório. Ele deixa mulher e três filhos.
Com informações do Globo