O presidente Jair Bolsonaro perde substância, rapidamente, diante da crise econômica e escândalos em série. Moro pode se mudar para os EUA e a renúncia de Paulo Guedes não seria uma surpresa.
Destituído da autoria daquela que seria o principal trunfo de seu governo, a reforma previdenciária, que passou a exibir a assinatura do Congresso e não mais do Executivo, o presidente Jair Bolsonaro segue em queda livre junto ao eleitorado. Dois de seus principais ministros, da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, já apresentam sinais evidentes de fadiga.
No caso de Guedes, o desemprego, que segue no patamar de 13 milhões de brasileiros e brasileiras, demonstra que foi para o ralo o discurso de que bastaria retirar do poder a presidenta Dilma Rousseff (PT) para que o país retomasse o desenvolvimento. O desalento, que hoje atinge mais de 5 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, une-se à subutilização, situação enfrentada outras 28 milhões de pessoas inseridas no mercado de trabalho.
Ainda na cena econômica, o governo oferece a privatização de ativos valiosos para o país e a retomada do crescimento fica abaixo de 0,5%, em 2019, na previsão de analistas. A crise econômica é tamanha que a recessão passou a ser tratada como tendência, na mídia internacional, que não descarta a queda de Paulo Guedes.
Em queda
Agências de notícias mundiais, a exemplo da Bloomberg, Reuters e Capital Economics ressaltam os dados negativos, em seis meses do governo Jair Bolsonaro, e evidenciam os riscos de que a a maior economia da América Latina perdeu o fôlego.
A norte-americana Bloomberg, nesta segunda-feira, adianta que a “queda na indústria é vista como evidência de recessão”. O mesmo panorama aparece na análise da especializada em economia Capital Economics, a qual afirma que “há boa chance de que o PIB tenha se contraído pelo segundo trimestre consecutivo”.
Para a agência inglesa de notícias Reuters,“após seis meses, auréola do guru Paulo Guedes escorrega” e, diante da recessão premente, “ninguém mais acredita” em uma retomada do crescimento para este ano, como o ministro havia prometido, mesmo que a reforma da Previdência seja aprovada pelo Congresso.
Pesquisa
Ainda segundo a agência, diante da crise atual uma eventual saída de Guedes do ministério, “pode não ser o cenário de pesadelo dos investidores que já foi um dia”.
Enquanto patina no campo econômico, Jair Bolsonaro também amarga a repulsa dos eleitores que, há seis meses, o chamavam de “mito”. Levou para a História uma vaia monumental no Maracanã, na tarde deste domingo, na companhia de Sérgio Moro. Experimentou, assim, o julgamento popular, uma vez que seria, na opinião dele próprio, “o povo (que) vai dizer se estamos certos”.
A rejeição popular apareceu, nesta segunda-feira, estampada em números. Bolsonaro tem a pior avaliação de um presidente em primeiro mandato, após seis meses de governo. Esta é a opinião de 33% dos brasileiros, segundo pesquisa do Datafolha.
Expectativa
Segundo o estudo, divulgado nesta manhã, Bolsonaro realiza um início de primeiro mandato pior do que foi o de Fernando Collor de Mello, em 1990. Collor era aprovado por 34%, com uma rejeição de 20%.
A pesquisa foi feita entre os dias 4 e 5 deste mês, com 2.860 pessoas, em 130 cidades, e tem margem de erro de 2 pontos percentuais e apontou, ainda, uma queda na fatia de entrevistados que preveem uma gestão ótima ou boa, de 59% em abril para 51% agora. Na opinião dos entrevistados, a expectativa de uma gestão regular subiu de 16% para 21% e o pessimismo ficou estável dentro da margem de erro, de 23% para 24%.
Para 61%, no entanto, Bolsonaro fez menos do que o esperado, enquanto 22% consideram o desempenho dentro do previsto e 12% avaliam que o presidente superou a expectativa.
Férias forçadas
Parte do desempenho negativo de Bolsonaro pode ser creditado à performance de seus ministros. Principalmente, a de Sérgio Moro, personagem central do escândalo conhecido como Vaza Jato. Nele, o ex-juiz paranaense aparece em um possível conluio para a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A imagem de Moro piora, sensivelmente, no momento em que a PF preparando uma série de prisões relacionadas ao caso. No lugar de prender aqueles que cometeram crimes durante a Operação Lava Jato, a polícia comandada por Sérgio Moro estaria a um passo de a aprisionar supostos “invasores de celulares dos procuradores da Lava Jato”. A informação foi vazada para o site de extrema-direita “O Bolsonarista”.
Há apenas seis meses no cargo, Moro pediu licença de uma semana para “tratar de assuntos pessoais”, segundo a assessoria do Ministério. Nas redes sociais, corre a versão de que o ex-juiz estaria prestes a se mudar para os Estados Unidos.
Do CdB