As provas colhidas pela CPI e a íntegra dos depoimentos serão encaminhados ao Tribunal Penal Internacional e, segundo adiantou a senadora Zenaide Maia (Pros-RN), não há escapatória para as atitudes do chefe do Executivo, que tenta desesperadamente lutar contra a investigação
A CPI da Covid, que inicia nesta terça-feira a primeira série de audiências com os ex-ministros da Saúde do governo de Jair Bolsonaro (sem partido), fica mais próxima de apontar o atual mandatário como “genocida”, conforme denunciam processos em andamento no Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, na Holanda.
As provas colhidas pela CPI e a íntegra dos depoimentos serão encaminhados à Corte de amplitude mundial e, segundo adiantou a senadora Zenaide Maia (Pros-RN), não há escapatória para as atitudes do chefe do Executivo, que tenta desesperadamente lutar contra a investigação.
— Não tem como o presidente Jair Bolsonaro não ser declarado um genocida. O governo fará de tudo para atrapalhar essa comissão, mas está perdendo todas as batalhas. As provas são robustas contra Bolsonaro — avaliou a senadora Maia, em entrevista à agência brasileira de notícias Rede Brasil Atual (RBA) sobre os trabalhos da CPI da Covid.
Integrante da Comissão Temporária da Covid-19 no Senado, Maia não faz parte da CPI, mas acompanha as sessões por meio da Bancada Feminina e observa que a retaliação ao governo federal deve ser maior. Para tentar atrapalhar os trabalhos da CPI no Senado, a ala governista já prepara uma “avalanche” de requerimentos de informações para as próximas semanas, questionando os repasses do governo federal a Estados e municípios.
Omissões
Os quatro, dos 11 membros titulares da comissão, devem tentar desviar o foco do governo de Jair Bolsonaro contra os governadores. Como uma forma de pressionar os adversários políticos e, principalmente, minar o trabalho do senador Renan Calheiros (MDB-AL) à frente da relatoria da CPI.
Apesar do empenho, a avaliação nos bastidores é que as manobras terão pouco efeito. Instalada na última terça-feira, em uma derrota para o governo federal, a CPI da Covid deve seguir apurando as ações e omissões da União diante da pandemia de covid-19, apesar da “tropa de choque”, formada por Marcos Rogério (DEM-RO), Jorginho Mello (PL-SC), Eduardo Girão (Podemos-CE) e Ciro Nogueira (PP-PI).
— Ele (Bolsonaro) deliberadamente resolveu declarar guerra à ciência e não assumiu a coordenação geral. Ao invés de comprar as vacinas antecipadamente como o mundo fez, porque se alguém sabe que a população mundial chega a quase 8 bilhões de pessoas, no mínimo essa vacina ia ser disputada. E ele não queria as vacinas. A imprensa tem um papel mais importante nessa pandemia do que Bolsonaro — criticou a senadora Zenaide Maia.
Depoimentos
Segundo a parlamentar, Bolsonaro “atrasou o auxílio emergencial porque ele sabia que sem o auxílio dificilmente aquelas pessoas que são ambulantes iam ficar dentro de casa”.
— Atrasou o repasse para as micro e pequenas empresas, que são responsáveis por mais de 70% dos empregos formais do país. E, quando chegou dezembro, ao invés de repetir (os auxílios), deixou o povo com fome durante três meses. É um presidente que não respeitou nenhuma regra e não mostrou nenhum respeito. E a CPI vai mostrar isso — prevê.
A partir desta terça-feira, começam os depoimentos com o médico Luiz Henrique Mandetta, seguido de Nelson Teich, que o substituiu. Na quarta-feira, será a vez do atual titular da pasta, Marcelo Queiroga.
Milícias
Em paralelo a equipe da comissão que auxilia Renan já elaborou uma coletânea com mais de 200 momentos em que Bolsonaro criticou o isolamento social, incentivou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada e minimizou a pandemia, entre outros discursos negacionistas. O levantamento, segundo os congressistas, pode servir para imputar crimes ao presidente.
Apesar de a CPI da Covid manter o foco na questão da pandemia, o envolvimento do presidente com as milícias armadas que controlam vastos territórios, no Estado do Rio de Janeiro, também tende a entrar na pauta do Congresso, conforme pedido do ex-presidente da OAB-RJ e ex-deputado federal Wadih Damous.
Damous cobrou das autoridades judiciais a continuidade das investigações sobre as possíveis ligações do presidente Bolsonaro com as milícias no Rio de Janeiro. O caso voltou à tona nos últimos dias por meio de reportagem da agência norte-americana de notícias The Intercept Brasil.
Interceptações
A agência mostrou que quando o miliciano Adriano da Nóbrega estava foragido na Bahia, abrigado por um casal de amigos, houve entre eles conversas no sentido de buscar apoio com alguém denominado ‘o homem da casa de vidro’, que seria referência a Bolsonaro.
Essas informações reforçam a tese das ligações de Bolsonaro com as milícias. Obtidas pela análise de grampos do Ministério Público do Rio de Janeiro, as interceptações teriam sido interrompidas tão logo o nome de Bolsonaro foi mencionado pelo grupo de Adriano, que depois foi morto pela PM da Bahia.
— Mas que procedimento é esse, que o MP do estado do Rio simplesmente interrompe as interceptações e não toma uma providência? — questiona Damous.
Damous disse que é reconhecido que o crime organizado no Rio de Janeiro mantém relações com a família Bolsonaro.
— Há uma ligação intensa de Bolsonaro com os milicianos. A reportagem do The Intercept Brasil mostra que houve contato ou pelo menos tentativa de contato com a família do presidente — concluiu.
Fonte: CdB