O futuro da Europa dependerá da nova composição do parlamento europeu, dos escolhidos para Presidente da Comissão e do BCE (Banco Central Europeu), e da audácia e engenho dos líderes em reformar a União Econômica e Monetária
É mais fácil decidir como votar, do que prever o que irá acontecer no rescaldo das eleições europeias que terão impacto quer a nível nacional, em cada estado membro.
Tabela 1- Parlamento Europeu: Distribuição de mandatos por agrupamento político e países
No parlamento europeu, os grupos políticos europeístas (partido popular europeu (PPE) e socialistas & democratas, S&D) que alternadamente, têm assegurado uma maioria suficiente para fazer progredir a integração europeia, certamente que perderão essa maioria. Hoje representam 53,5% dos mandatos e em 2019, segundo projeções do POLITICO, representarão apenas 42,1%.
Tudo indica que a fragmentação do novo parlamento europeu será maior e maior a dificuldade de formar maiorias. Um primeiro resultado, praticamente certo, das próximas eleições é que desaparecendo esta maioria desaparece com ela o poder dos dois maiores grupos políticos de escolherem só entre si os nomes para os lugares-chave do projeto europeu (presidente da comissão, presidente do BCE, etc.). Alguém mais terá de se sentar no lugar da frente da integração européia e o principal candidato serão os liberais democratas (ALDE), com o reforço dos deputados do En Marche de Macron.
Crucial para o progresso da integração européia, quer internamente quer na EU será, por isso, o resultado eleitoral de Macron, dado que é o político europeu com algum peso que tem apresentado propostas mais arrojadas neste domínio. Com a adesão do En Marche, a ALDE passará de quarta, para terceira força política européia e tornar-se-á um parceiro essencial no futuro da União Européia, a confirmar-se que, com ela, haverá uma maioria confortável no parlamento europeu.
O poder da ALDE dependerá de existir ou não uma coligação majoritária que pode juntar, em certo tipo de legislação, o Partido Popular Europeu (PPE), os Conservadores (ECR, onde está a CDU/CSU de Merkel, na Alemanha, bem como os conservadores britânicos) e os socialistas e democratas (S&D). Note-se que esta coligação hoje tem uma maioria confortável (63,8%), mas deverá ficar muito perto de apenas metade dos mandatos (50,2% segundo as projeções atuais). Uma das grandes incógnitas da noite eleitoral será precisamente se estas três famílias políticas conseguem, ou não, obter uma maioria absoluta no parlamento europeu. Há possibilidade se o conseguirem a adesão da ALDE, mas não será uma vantagem tão grande, pois existe outra coligação majoritária alternativa, se não o conseguirem, porém é certo que os liberais e democratas tornar-se-ão os novos agentes das decisões europeias.
À esquerda e no centro-esquerda, tudo indica que haja um movimento de votos da esquerda unitária (GUE/NGL onde está a CDU e o Bloco de Esquerda) para os verdes (Green/EFA onde não há partidos portugueses, mas onde se sentará o deputado do PAN caso seja eleito). Hoje estas duas famílias políticas têm o mesmo número de mandatos (52) e estima-se que os ganhos dos verdes sejam exatamente a perda da esquerda unitária (3 mandatos), algo que poderá estar subestimado. Talvez isto explique a razão pela qual diversos partidos políticos nacionais têm colocado na sua agenda com mais enfase as questões ambientais.
Finalmente, outra certeza destas eleições é o peso crescente das forças nacionalistas, populistas e anti-europeias um pouco por toda a Europa incluindo a Alemanha onde a AfD deverá aumentar a sua representação. Se incluirmos os independentes e não inscritos (IN), maioritariamente eurocéticos, o seu peso passa de 13,1% para 22,1% ou seja cresce para quase um quarto dos eurodeputados. Curiosamente, dado que o peso dos ingleses do partido da independência (UKIP de Nigel Farage), neste grupo, é significativo, a eventual saída do Reino Unido da UE, com a consequência da saída de todos os seus deputados, melhorará um pouco este mau cenário, do ponto de vista dos europeístas.
Tabela 2- Possíveis coligações resultantes das eleições europeias (% mandatos).
Seja como for o resultado, o futuro da Europa dependerá da nova composição do parlamento europeu, de quem for escolhido para Presidente da Comissão Européia e do Banco Central Europeu, e da audácia e engenho dos líderes europeus em reformar a União Econômica e Monetária, de preferência antes da próxima crise.
Fonte Observador