A comunidade científica brasileira foi pega de surpresa com um corte massivo de bolsas de pesquisa realizado pela Capes na noite da quarta-feira (8). Jefferson Simões, vice-presidente do Comitê Científico sobre Pesquisa Antártica, comenta os impactos dessa medida:
Simões reconhece que há uma grave crise econômica no Brasil e acredita que ajustes possam ser necessários, porém, considera que as mudanças feitas no financiamento da educação por parte do governo federal têm sido realizadas de forma “intempestiva”, de tal modo que demonstra pessimista em relação ao futuro do sistema educacional brasileiro.
Está causando uma verdadeira destruição do sistema de Ciência e Tecnologia. Note, por exemplo, que o mais preocupante foi o recente bloqueio de todas as bolsas novas”, afirma o pesquisador. Ele também aponta que seu projeto na Antártida foi afetado e já está dispensando pesquisadores mais novos de mestrado e doutorado devido à escassez de recursos.
“O mais grave é que existe um discurso aí que não mostra a realidade, contra as universidades. Existe um movimento de anti-intelectualismo, e isso é muito preocupante em um país que ainda tem que fazer muitos investimentos em Ciência e Tecnologia”.
O Programa Antártico Brasileiro (ProANTAR) existe desde 1982 é consequência direta do Tratado da Antártida, assinado pelo Brasil em 1959. O pesquisador explica que o projeto ainda tentará reverter o corte nas próprias bolsas e que no longo prazo vê um atraso no desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro.
“E veja bem, no nosso caso do Programa Antártico brasileiro, que é um programa estratégico, um programa do Estado brasileiro que exige a pesquisa científica para um país ter direito a 50 milhões de km² do planeta Terra e de repente você começa a cortar essa pesquisa. Certamente é de uma visão muito limitada”, ressalta o pesquisador, que também deixa claro que o corte de investimentos na pesquisa diminui o protagonismo brasileiro no Tratado Antártico.
Simões ainda explica que a comunidade acadêmica reagiu com espanto diante dos cortes.
“[A reação] foi horrível, porque não houve nenhum processo paliativo, não houve nenhum pensamento de como efetuar esses cortes. Foram cortes lineares e mostra que não existe uma estratégia, pelo menos, para a preservação da Ciência e Tecnologia — a não ser se a estratégia é realmente destruir a Ciência e a Tecnologia no Brasil”, aponta.
Os cortes realizados sobre as bolsas da Capes foram pegaram os cientistas brasileiros de surpresa, conforme disse Simões, que acredita que a medida afeta o “status do Brasil na comunidade científica internacional”.
Com o anúncio cortes veio à tona também a possibilidade de utilizar o setor privado para suprir as lacunas deixadas pelo investimento público. Porém, o pesquisador alerta que a defesa desse modelo se baseia em um mito sobre a utilização de recursos privados em outros países.
“Aqui nós temos um grande mito, e eu diria mentira. Nos Estados Unidos, a maior parte das investigações são subsidiadas pelo governo, quer pela área militar, o Pentágono, quer pela área civil. É claro que após isso a implementação desse desenvolvimento científico é passado para as empresas”, explica Simões, que aponta que o processo segue para a iniciativa privada para que as empresas possam comercializar os avanços tecnológicos.
Os cortes anunciados na educação brasileira geraram protestos em diversas universidades do país. As movimentações dentro da comunidade acadêmica indicam que os protestos devem continuar e uma greve geral do setor está marcada para o dia 15 de maio.
Do Sputnik Brasil