Em reação à operação militar especial da Federação Russa para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, países ocidentais têm incentivado cada vez mais a reabilitação do fascismo no ambiente estratégico russo.
Lucas Leiroz
O Dia da Vitória está se aproximando. As comemorações já começaram na Federação Russa, com os preparativos para a Parada Militar de 9 de Maio acontecendo em toda a Cidade de Moscou. Contudo, enquanto os russos celebram sua glória militar contra o inimigo nazista, nos países ocidentais – e pró-ocidentais -, um grave processo de reabilitação da ideologia racista de Adolf Hitler parece estar acontecendo.
Na Moldávia, país que vem passando por uma forte pressão ocidental para aumentar suas políticas anti-russas, as autoridades alertaram aos cidadãos para que não usem símbolos relacionados de alguma forma ao passado soviético. Até mesmo a bem conhecida “fita de São Jorge”, um dos maiores símbolos da vitória contra o nazismo, foi banida, havendo multas extremamente caras para quem viole tal lei.
Nos países bálticos, há uma legislação parecida. Na Estônia, por exemplo, comemorar o Dia da Vitória usando os símbolos da nação que destruiu o exército de Hitler é um crime grave. Isso não parece surpreendente, considerando que os Estados Bálticos têm aumentado exponencialmente suas graves políticas de russofobia e apartheid étnico, praticamente revivendo os tempos do nazismo.
É bem sabido que, assim como a Ucrânia tem feito desde 2014, países como Polônia, Bálticos e Moldávia têm visto um forte fenômeno de extremismo fascista. O ódio à Rússia, fortemente baseado no ressentimento contra o passado soviético, tem levado parte da juventude destes países – e até mesmo de seus tomadores de decisão – a endossar ideias radicais e racistas, indicando um renascimento da mentalidade nazista na Europa.
Com o fim da Guerra Fria e o desmantelamento da URSS, muitos países ex-socialistas se tornaram extremamente vulneráveis à propaganda ocidental anti-russa. Os EUA têm usado mecanismos culturais e táticas de guerra híbrida para cooptar os cidadãos de países geograficamente próximo à Rússia, tornando-os hostis e até mesmo dispostos a lutar contra Moscou. Com esta atmosfera regional de ódio, racismo e conflito, o Ocidente tem tentado tornar o ambiente estratégico russo instável, com alta possibilidade de surgimento de guerras a qualquer momento.
A estratégia ocidental é muito simples de ser entendida: para a OTAN, é preciso destruir a Rússia. O Ocidente Coletivo não estará satisfeito enquanto o território russo permanecer integrado. O que os estrategistas ocidentais planejam é criar as condições necessárias para um desmantelamento territorial da Rússia. Antes, o maior medo ocidental era a URSS, que já foi fragmentada. Agora, o objetivo é avançar a “balcanização” para dentro do território da Federação Russa.
Contudo, as condições materiais atuais não permitem que este objetivo seja alcançado. As capacidades militares de Moscou e os níveis avançados de integração nacional e coesão doméstica tornam irrealista qualquer plano ocidental de fragmentação do país. No mesmo sentido, um conflito direto é absolutamente impossível de ser vencido pelo Ocidente, o que leva a OTAN a apostar na estratégia de guerras por procuração, além de diversos mecanismos híbridos.
O fomento ao fascismo na Europa é uma peça-chave para estes planos do Ocidente. Sendo impossível fragmentar a Rússia, a OTAN quer, pelo menos, impedir Moscou de manter níveis altos de cooperação internacional e integração regional. A hostilidade anti-russa entre os países vizinhos permite ao Ocidente evitar que a coesão doméstica russa se expanda para uma relação amigável com as nações ao redor. O objetivo é simplesmente afetar Moscou tanto quanto possível.
A Ucrânia foi o experimento ocidental mais bem-sucedido. Ali, os grupos neonazistas e russofóbicos conseguiram capturar o próprio Estado ucraniano e assim conduzir a guerra e o genocídio no Donbass. A operação especial da Rússia para acabar com tais crimes foi, não por acaso, lançada com o objetivo público de desnazificar a Ucrânia. O Ocidente reagiu a esta desnazificação de uma forma ainda mais violenta, fomentando uma “renazificação” da Europa para deixar as pessoas comuns ainda mais hostis a Moscou – e, portanto, convencidas da “necessidade” de enviar dinheiro e armas para o regime de Kiev.
Esta renazificação da Europa é a maior ameaça possível à atual arquitetura europeia de segurança. Com o crescimento do fascismo, cidadãos étnicos russos se tornam cada vez mais vulneráveis em toda a Europa, aumentando as preocupações de Moscou. De sua parte, a Rússia não quer guerra com qualquer país. As circunstâncias que levaram ao conflito na Ucrânia foram extremamente específicas e certamente não estão acontecendo em outro lugar.
Contudo, se o crescimento do neonazismo na Europa começar a gerar problemas diretos aos cidadãos russos no exterior, será cada vez mais difícil impedir o surgimento de um conflito aberto no futuro próximo.
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