Consolidando o status Brasil como anão geopolítico

A tal Política Externa Ativa e Altiva – slogan repetido ad nauseum por Celso Amorim durante os anos do primeiro governo Lula – nunca realmente convenceu ninguém com um QI acima da temperatura ambiente (em graus Celsius), mas pelo menos ela permitiu ao Brasil de então angariar algum prestígio internacional e um certo protagonismo como um dos articuladores dos BRICS. Com Lula versão 2023 isso acabou.

A altivez parece ter desaparecido completamente do panorama, enquanto a política externa nativa, ainda fortemente influenciada por Amorim e seu grupo, dá sinais cada vez mais claros e sonoros de “atividade” apenas em termos de vassalagem aos EUA/EU. O primeiro feito desta trama foi converter o Brasil no único país dos BRICS a condenar a Operação Especial Russa na Ucrânia. Lula poderia ter expressado sua leitura superficial, contra-factual e anti-histórica do conflito diretamente a Putin, mas escolheu fazê-lo da Casa Branca, ao lado de Biden, durante sua vista aos EUA estilo Disney, há algumas semanas. Pegou mal no Sul Global, que vem rejeitando sistematicamente qualquer tentativa de enquadrar a Rússia como a parte agressora no conflito – corretamente, diga-se de passagem.

Em seguida, tivemos que tolerar a entrevista Mauro Vieira, o atual “Chanceler”, nas páginas amarelas daquela notória revistinha nacional de imaculada tradição golpista. Ele declarou que o Brasil havia saído de cima do muro. De fato, saltou no colo dos EUA, e cortejando imediatamente o regime nazista de Kiev. Todos vimos as fotos de Vieira ao lado de Dmytro Kuleba, o chanceler neo-nazista ucraniano.

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O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, se reuniu com seu homólogo ucraniano, Dmytro Kuleba, à margem da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha.

Agora prepare-se para a proverbial cereja do bolo: o Brasil acaba de votar na ONU condenando a Rússia pela Operação Militar Especial. Aqui está o placar:

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Resultados da votação na Assembleia Geral da ONU.

O leitor astuto não se deixará impressionar pelo número de quadradinhos verdes. Entre os Amarelos (atenção) e Vermelhos (contra) temos todos os países que disputam lutas intestinas para conquistar, defender e ampliar sua soberania. Os Amarelos e Vermelhos também respondem pela maioria absoluta da população mundial. Os Verdes (a favor) reúnem os vassalos assoberbados do império, os países ocupados ou “primaverados” pelos EUA, e finalmente, as pseudo-democracias corrompidas pelo dinheiro fiduciário do hegemon. Foi neste balaio desagradável que o Itamaraty, sob Lula e Vieira, colocou o Brasil. Deixo ao leitor a tarefa de escolher qual seria a categoria adequada entre as opções enumeradas.

Os responsáveis pela política externa brasileira operam essas manobras enquanto pretendem pousar como potenciais mediadores do conflito. Será que esses formuladores não entendem que acabaram de se privar definitivamente da neutralidade necessária que tal posição exige? Ou eles acreditam que procedendo desta forma estariam se habilitando para pleitear uma posição como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU? – se for este o caso, me procurem, eu tenho uma ponte para vender.

Seja como for, a Operação Especial Russa na Ucrânia irá prosseguir inexoravelmente, até que o ocidente coletivo esteja pronto para conceder à Rússia as condições de segurança coletiva formuladas e entregues nas mãos de Biden em Genebra, no verão de 2021. E estas circunstâncias deixam em total evidência a miopia e o amadorismo da política externa brasileira, cujos formuladores, na melhor das hipóteses, estão tentando usar o conflito na antiga Ucrânia como um trampolim para um protagonismo irresponsável e danoso para a reputação do país.

Será que Lula e Vieira não percebem que a sua política externa errática pode consolidar o Brasil como o anão geopolítico em que ele se converteu desde que o golpe contra Dilma Rousseff e a Operação Lava-Jato, seguidos pelo governo Bolsonaro, jogaram o país no limbo das relações internacionais?

Outro fantasma que ronda o futuro geopolítico do Brasil tem a ver com uma possível presidência do Banco dos BRICS, o NDB, por Dilma Rousseff. Estaríamos prestes a testemunhar a conversão do Brasil em uma espécie de Cavalo de Troia pró-hegemon de proporções continentais, trabalhando no coração dos BRICS? Espero sinceramente que não.

Fonte: sakerlatam.org

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