Do GGN
por Maister F. da Silva
Após a euforia, desalentos, acusações, busca de culpados e a leitura atenta de nossos principais analistas do cenário político e geopolítico, que buscam identificar e buscar o mínimo de respostas para a derrota eleitoral da esquerda, já é permitido aos simples mortais e militantes políticos arriscar algumas breves considerações sobre os fatos:
1 – O Brasil, todos sabemos, têm DNA escravista e um histórico de repulsa da elite branca em conviver com negros e pobres no mesmo patamar de direitos e deveres perante ao estado. Fato bem manejado por Jair Bolsonaro em sua pré-campanha, atacando negros, gays, mulheres e indígenas mandava um recado claro a seu eleitorado preferencial;
2 – A classe média A e B é dominante do ponto de vista eleitoral e econômico, detêm cerca de 46% do poder de compra, e alto poder de influência na classe C, aqueles que possuem renda média mensal de R$ 1.200,00 a pouco mais de R$ 5.000,00 mensais, erroneamente chamados de “emergente classe média”. Segundo estudo realizado em 2013 pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde a classe C deseja para si: ser respeitada pelos outros, ter segurança e sentir que alcançou suas aspirações. Bolsonaro teve votação expressiva nesse segmento e dominou o poder de voto na classe média clássica – correia de transmissão da elite;
3 – Em duas matérias sobres as eleições presidenciais publicadas pelo periódico El País nos dias 26 e 27 de outubro de 2018, evidencia-se essa leitura. Jair Bolsonaro saiu vencedor nas cidades mais brancas e ricas e Fernando Haddad nas mais negras e pobres. O periódico paulista Estadão horas após a finalização do 2° turno publicou infográfico corroborando com o El País, Bolsonaro venceu em 97% das cidades mais ricas, Fernando Haddad em 98% das mais pobres. A Folha de São Paulo identificou que Bolsonaro venceu nas cidades com IDH mais alto e Haddad nas mais baixas, fenômeno ocorrido em todo país com mais baixa intensidade no centro-oeste e sul;
Tais números identificam que o país dividiu-se? Não, nem um pouco. Mostram a realidade brasileira desde sempre. O que acabou foi a lua de mel da elite para quem a esquerda é um mal asqueroso a ser extirpado, seja ela radical ou conciliadora, a elite demonstrou também que tampouco segue qualquer agremiação partidária o PSDB tido como o partido da elite, foi rifado por eles, seu centro de comando são os círculos do capital financeiro e especulativo. A elite é elite em qualquer cenário, não concorda com qualquer direito que não seja a serviço da manutenção de seus privilégios, não merece confiança, quiçá em períodos de calmaria, quando lucram e tem tempo para arquitetar seus projetos mais vis e sórdidos, protofascistas.
A esquerda brasileira fica a lição que seu povo tampouco a abandonou, porque sabe que na esquerda reside sua única possibilidade de mudança e melhoria de vida. Os números mostram que de pouco adiantou o apoio e declaração de voto de figuras carimbadas do cenário político do país.
O escrutínio eleitoral trouxe lágrimas, todavia nos lembra onde reside a força histórica das grandes transformações humanísticas e civilizatórias.
Abracemo-nos ao povo e seguimos, nele reside a nossa força, nossa sabedoria e os sonhos mais belos e ousados de país livre e soberano, onde nenhum brasileiro deixe de ter ao menos três refeições diárias.
Obs: É sabido desde o começo que a batalha foi hercúlea, sozinhos enfrentamos o agronegócio, o capital financeiro, a cúpula militar e os dois mais poderosos serviços de inteligência secreta do mundo. Nos venceram manipulando o povo com informações mentirosas e factóides e não há honra numa vitória baseada em mentiras.
Maister F. da Silva – Militante do Movimento dos Pequenos Agricultores. Integrante do FRONT – Instituto de Estudos Contemporâneos