Para o Brasil promover a equidade social é necessário um Estado forte, afirma Lula

Lula reafirmou ao jornal Gancha, de Xangai, a necessidade de um Estado forte para a plena realização das políticas sociais necessárias à equidade social do país. As elites financeiras, todavia, mantêm “muita ingerência” política nos países da América Latina, e estão “privatizando aquilo que deveria ser papel do Estado”.

entrevista

Líder isolado nas pesquisas de intenção de votos para as eleições do ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou, em entrevista para um jornal chinês, para a retomada da normalidade nas relações entre os dois países, a partir do momento em que o atual mandatário, Jair Bolsonaro (sem partido) deixar o Palácio do Planalto.

Lula reafirmou ao jornal Gancha, de Xangai, a necessidade de um Estado forte para a plena realização das políticas sociais necessárias à equidade social do país. As elites financeiras, todavia, mantêm “muita ingerência” política nos países da América Latina, e estão “privatizando aquilo que deveria ser papel do Estado”. O ex-presidente também elogia a atuação da China no combate ao coronavírus, porque tem um partido forte no comando da máquina estatal.

— Muitas das políticas sociais que o povo precisa só podem ser feitas se o Estado for forte. E, lamentavelmente, nos países da América Latina o Estado está cada vez mais fraco. Estão cada vez mais privatizando as empresas públicas e tudo aquilo que deveria ser papel do Estado — criticou o líder popular brasileiro.

CoronaVac

O ex-presidente também citou o gigante asiático como “exemplo de desenvolvimento” para o mundo.

— A evolução que os chineses tiveram nos últimos 20 anos foi uma coisa extraordinária. E isso tudo só foi possível pela organização política chinesa. E com muita competência, muita cultura, muito investimento e com muito conhecimento científico-tecnológico — elogiou.

Lula comemorou por ter sido imunizado com a vacina chinesa CoronaVac. Entretanto, ele atribuiu à “irresponsabilidade” do governo Bolsonaro as centenas de milhares de mortos causados pela pandemia no Brasil.

— Temos um governo que não acredita no coronavírus, que disse que era apenas uma gripezinha. Que passou o tempo inteiro recebendo ordem do ex-presidente (Donald) Trump dos Estados Unidos, desafiando os chineses, culpando os laboratórios chineses, dizendo que a vacina chinesa não valia absolutamente. E que não comprou nenhuma vacina durante muito tempo. Quando o Brasil começou a comprar vacina, o país já estava tomado pelo vírus — acrescentou Lula.

BRICS

O presidente mais popular na História recente do país destacou, ainda, que durante o seu mandato as transações comerciais entre Brasil e China cresceram 16 vezes. De cerca de US$ 6 bilhões, em 2003, para US$ 76 bilhões ao final da primeira década do século 21.

— E eu acho que isso incomodou os (norte-)americanos. Incomodou, porque eles não aceitam, em hipótese alguma, que na América Latina tenha algum país com protagonismo. Eles acham que os países da América Latina têm que ficar subordinados às orientação do Departamento de Estado (norte-)americano — sublinhou.

O ex-presidente disse também que “sonha” com a retomada dos BRICS – bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Mais do que integração, o ex-presidente sai em defesa de uma “parceria estratégica” entre esses países. Inclusive para contornar a dependência do dólar nas transações internacionais.

Xerifes

Na entrevista, Lula voltou a atribuir o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, bem como a sua prisão pela Operação Lava Jato, à ingerência norte-americana. Segundo ele, foi o petróleo do pré-sal – a maior reserva descoberta no século XXI – que aguçou os interesses dos Estados Unidos. Além disso, os norte-americanos também estavam incomodados com o protagonismo internacional exercido pelo Brasil. E, em maior grau, pela própria China.

— Os Estados Unidos, na verdade, têm medo de perder a primazia de xerifes do mundo. Não querem competidor, nem na área econômica, na área tecnológica, nem na área militar. (…) E é por isso que a gente não pode aceitar o papel que os Estados Unidos tentam impor à humanidade — criticou.

O Departamento do Justiça dos Estados Unidos, presume, orientou a atuação do ex-juiz Sergio Moro e dos procuradores da Lava Jato.

— Nós temos gravado depoimentos de Procuradores norte-americanos festejando a minha prisão — revelou.

Lawfare

A partir dessa cooperação internacional ilegal, o Judiciário brasileiro foi utilizado como arma política – o chamado lawfare.

— Nunca me preocupei, porque tinha consciência da minha inocência. E hoje eu estou aqui. Sempre tive minha consciência mais tranquila e um sono melhor do que aqueles que me acusaram e me julgaram. Espero que um dia toda essa gente que contou mentiras a meu respeito peça desculpa publicamente — prosseguiu.

Aos 75 anos, Lula afirmou que tem “muita energia” para ajudar a recuperar a democracia brasileira nas eleições de 2022.

Fonte: CdB

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