Obsolescência programada das vacinas americanas e das revacinações anuais – A guerra da Big Pharma só agora começou…

vacinação

Por Guillaume Suing [*]

É sem dúvida uma surpresa para todos os que acreditam nos “remédios milagrosos” e nas soluções garantidas sob palavra de honra nos EUA e na União Europeia ou por Macron: a aliança Pfizer-BioNtech, pioneira com a Moderna das famosas vacinas de ARN contra a Covid-19, anuncia-nos já uma subida dos seus preços, instalando-se “a longo prazo” numa “lógica clássica de mercado” e, isto é importante, uma possível “terceira dose”, destinada a “reforçar a eficácia” da vacina contra as atuais variantes. “É cada vez mais provável que seja necessária uma revacinação anual” declarou recentemente Franck D’Amelio, diretor financeiro da Pfizer… [1]

Em suma, o que a Pfizer anuncia, mas também, na sua esteira, a Moderna e a AstraZeneca (a nova vacina de ARN “reatualizada” para as novas variantes, misturas de vacinas, terceiras doses) está nos antípodas da estratégia dos chineses ou dos cubanos: a “durabilidade”. É a confirmação duma mal disfarçada estratégia lucrativa e da “obsolescência programada das vacinas”.

Lembramos que os chineses trabalharam em vacinas consideradas “arcaicas” pela “comunidade científica mundial” (melhor dizendo, “a aliança dos gigantes da indústria farmacêutica das potências imperialistas ocidentais e seus porta-vozes”). “Arcaicas” porque amplamente comprovadas há mais de cem anos e demasiado “caras” porque é preciso cultivar maciçamente o vírus in vitro para fabricar a vacina. “Caras” sim, mas também muito mais duradouras, coisa que propositadamente se esquecem de dizer. O que significa o “custo” de produção da vacina, quando ela permitirá evitar depender dos aumentos incessantes de preços das vacinas imperialistas?

Quando a Pfizer, a Moderna (vacinas a ARN “nova geração”) e a AstraZeneca (vacina recombinada que integra um gene do SARS-CoV-2) apostaram num procedimento rápido e muito lucrativo – visto que não utiliza a cultura in vitro do próprio vírus, baseia-se na única proteína de espículas (spyke) versão 2020, e não prevê nenhuma das suas mutações ulteriores – a vacina chinesa (vacina atenuada contendo várias proteínas virais conjuntas para atenuar a possível mutação de uma delas) e a vacina cubana (vacina recombinada contendo não apenas um mas vários genes virais, pelas mesmas razões) previram na sua primeira fórmula as famosas variações atuais. É precisamente isso que faz delas uma estratégia “duradoura”, de grande espetro e aplicável de forma homogénea por todo o planeta. Quando as vacinas norte-americanas são “eficazes a 99%” mas ficam imediatamente obsoletas logo que surgem variantes, as vacinas chinesas podem ser eficazes só em 80% mas mantêm-se a longo prazo! Quem é politicamente responsável? Quem se agarra a estratégias de marketing totalmente pueris?

As consequências não se fizeram esperar: por um lado, é absolutamente certo que, se as vacinas “arcaicas” do “eixo do mal” (vacinas russa, cubana, chinesa, sino-cubana, irano-cubana…) tivessem provocado efeitos secundários inquietantes, ou se não tivessem a eficácia anunciada de início, os media ocidentais tê-lo-iam anunciado diariamente já há muitas semanas. O mesmo para a Sputnik V russa que, tal como as vacinas acima referidas, são utilizadas no mundo inteiro (com exceção do Ocidente, cujos contratos foram assinados ao abrigo da conhecida piada “concorrência livre e não falseada”), ou seja, muito para além do seu território onde seriam suspeitos de esconder os números…

Por outro lado, parece agora que efetivamente a vacina AstraZeneca não é a única a perder a eficácia perante a variante “sul-africana” (a que se perfila como “vaga” depois da variante “inglesa”, na Europa): investigadores da entidade sionista (que vacinou abundantemente com as vacinas de ARN) estão em vias de demonstrar que a Pfizer, tal como a AstraZeneca, também perde a sua eficácia com a variante “sul-africana” (e sem dúvida com as seguintes…) [2] Talvez o neguem e sem dúvida serão seguidos por todos os promotores de bata branca duma “ciência positivista e limpa”, nunca parasitada pelos conflitos de interesse, mas preparam-se para organizar uma nova vaga de vacinações perante esta constatação.

Assim, temos, em traços largos, dois tipos de estratégias de vacinação. A primeira, ocidental, baseia-se no princípio da rentabilidade e da “obsolescência programada”: vacinas pouco dispendiosas (não é necessário cultivar o vírus para fabricar vacinas de ARN sintético), reducionistas e baseadas na imunogenicidade de uma única molécula viral (a mais estratégica do vírus, a que reconhece as células alvo…mas que, consequentemente, sofre mais mutações do que todas as outras). Tanto melhor: cada nova variante será objeto de uma campanha de vacinação ainda mais lucrativa. A perda de eficácia para as novas mutações, que os nossos “conselhos científicos” nos disseram ser impossíveis, ainda no ano passado (quando o professor Raoult foi o único a avisar-nos duma sazonalidade de variantes), é ao mesmo tempo uma visão reducionista e de curto prazo, típica da investigação em países capitalistas e uma oportunidade financeira a cada nova mutação. Aliás, as patentes das vacinas nunca serão públicas. Até a Universidade de Oxford, que tinha aperfeiçoado a vacina AstraZeneca na intenção de oferecer a patente ao domínio público (como a Soberana cubana, por exemplo!), arrepiou caminho imediatamente por ordem de Bill Gates. [3]

Não é por acaso que o segundo tipo de estratégia de vacinação, a estratégia “duradoura” embora mais cara (e, por isso, assumida pelos Estados e não pelas indústrias farmacêuticas privadas, ávidas de lucros imediatos), provém de Estados socialistas como Cuba ou a China. Estes têm todos os meios técnicos para produzir vacinas de ARN. Mas o problema das vacinas de ARN para o contexto atual é claramente a “simplicidade” da sua imunogenicidade: um só gene dá um só tipo de anticorpo, quando as vacinas atenuadas (chinesa e sino-cubana [4] ou recombinadas com vários genes (cubana e russa) resultam duma escolha de poli-imunogenicidade otimizada na hipótese de formas de resistência posteriores. Se uma molécula sofre uma mutação para resistir às pressões de seleção mundiais que impomos ao vírus, é preciso que uma vacina provoque a formação de anticorpos contra várias moléculas virais ao mesmo tempo. É mais complexa, mais “arcaica” também, segundo a OMS, mas igualmente mais ética e mais segura.

Não se trata de desacreditar o princípio da vacina de ARN; ninguém duvida da sua eficácia na hora H, nem que ela é tão inócua como as vacinas clássicas. As biotecnologias de ARN são as formas de luta mais promissoras contra os cancros de amanhã, por exemplo. Mas não são necessariamente a melhor forma de luta contra a pandemia mundial que vivemos e que impõe uma espécie de guerrilha médica, em que é necessário usar tudo o que temos e agir em toda a parte, ao mesmo tempo, de forma coerente.

A ideia de utilizar vacinas duradouras, ao mesmo tempo que profilaxias que melhor armem o nosso sistema imunitário (Interféron 2B cubano ou Hidroxicloroquina em numerosos países do sul), numa política nacional de detetar/isolar/tratar (com um confinamento de curto prazo ou não), é claramente a via seguida pelos países sobreviventes do campo socialista, quando nós aqui decidimos proibir as “moléculas arcaicas” (medicamentos “reposicionados” pouco rentáveis), promover “remédio milagrosos”, tipo Remdesivir da Gilead (virucida que ataca o vírus iludindo o sistema imunitário e provocando nele inúmeras mutações perigosas, como os virucidas atualmente testados pela Pfizer em 2021! [5] , confinar tarde demais, sem limite de tempo e sem detetar/isolar/tratar (demasiado caro, ou mesmo impossível, depois de décadas de destruição programada dos hospitais públicos e da indústria nacional pelos governos ultraliberais).

A obsolescência programada capitalista das moléculas, que identificámos há umas semanas num artigo publicado na coletânea “Dis-leur! Bulletin d’information 2021” (por iniciativa da associação ALBA Malta North África [6] e de que fala o IHU – Instituto Hospitalar Universitário Méditerranée de forma explícita [7] ) é uma questão de tratamento, claro, mas também uma questão de vacina… visto que caracteriza, tanto epistemológica como financeiramente, a própria essência da investigação a cargo do privado nos atuais países imperialistas.

A guerra das gigantes farmacêuticas está apenas a começar… tanto para o melhor, no caso dos burgueses, como para o pior, no nosso caso e naquilo a que outrora se chamava a “saúde pública”…

[1] “Dirigentes da Pfizer falam de uma subida de preço da vacina e da inoculação de uma terceira dose” (Buzinessinsider)

[2] “A vacina Pfizer BioNTech será menos eficaz contra a variante sul-africana” (Capital)

[3] “Como Bill Gates sacrificou a vacina” (Blogue François Ruffin)

[4] “A China e Cuba desenvolvem uma vacina contra várias versões de vírus” (Les2rives)

[5] “A Pfizer desenvolve dois medicamentos contra a Covid” (Le Point)

[6] “Dis-leur! Bulletin d’Information 2021” (ALBA malta north africa)

[7] “Contra a obsolescência programada dos medicamentos” (IHU Méditérranée)

Do mesmo autor em resistir.info:

Remdesivir, vacinas ARN e “obsolescência programada” das moléculas: o capitalismo é um travão para a ciência

Uma bela história de vírus (contra a virofobia ambiente…)

Por uma agricultura patriótica, popular e (portanto) ecológica!

Pavel Groudinine, candidato do PCFR às presidenciais de 2018

L’écologie à la lumiére du marxisme leninisme (livro para descarregamento)

[*] Professor agregado de Ciências da Vida e da Terra.   Autor de Evolution: La preuve par Marx (2016), L’Ecologie réelle, une expérience soviétique et cubaine (2018), L’origine de la vie: Un siècle après Oparine (2020), éditions Delga

Fonte: germinallejournal

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